8 de abril de 2011

Não pare na faixa

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O título, meus caros, não é educativo. Trata-se de um desabafo e, sendo assim, não tire conclusões sem ler o texto até o final. Tem a ver com uma dose cavalar de chateação e que me levou à seguinte reflexão: vale mesmo a pena agir corretamente?

O sábado começou com uma manhã entediante de trabalho. A rotina de repórter não é a maravilha que os estudantes de Jornalismo imaginam (e que eu também imaginava em meus tempos de academia, há quase dez anos). Fui escalado para cobrir o retorno de Rodrigão a Maringá e, na companhia de fotógrafo do jornal, levamos um chá de cadeira à espera do BBB no shopping onde ele participaria de sessão de autógrafos.

Deve ter sido castigo, pelos trotes que havia passado no Twitter sobre uma repentina chegada de Rodrigão, dias antes. Como entusiasta da editoria de política, queria ter acompanhado a reunião da simpática senadora Gleisi Hoffmann - esposa do ranzinza ministro Paulo Bernardo - com prefeitos da região. Baita azar, porém, o pior estava por vir.

O estresse do trabalho passou com um bom cochilo depois do almoço e com a terapia de sempre: a associação de livraria e café expresso, com ambiente climatizado para escapar do calor maringaense. Para melhorar, o café foi na agradável companhia de uma amiga jornalista. Para ficar perfeito, à noite passei buscar a namorada para jantar e beber um bom vinho. E bons vinhos sempre... bom, não há necessidade de pormenores.

Mas “quando a esmola é demais”, como diz o ditado, “o santo desconfia”. Alguma coisa estava para dar errado.

No percurso a caminho do Centro da cidade, por volta das 21h30, reduzi a velocidade ao notar um pedestre no canteiro central, aguardando para concluir a travessia da avenida. Fiz o que se ensina em qualquer autoescola, ao respeitar o Código de Trânsito Brasileiro e atender ao apelo das insistentes e válidas campanhas de trânsito: dei preferência ao pedestre. Uma fração de segundo depois, senti a pancada no meu carro vermelho de marca italiana e o corpo contra o sinto de segurança. Sinalizei com o pisca alerta que daria preferência ao pedestre, mesmo assim sofri colisão traseira de Vectra conduzido por um empresário, ou melhor, um ignorante de um pequeno município vizinho.

Não briguei, não ofendi o sujeito. Acidentes acontecem e, felizmente, ninguém se feriu. O empresário assumiu a culpa de imediato. Um senhor em torno dos 55 anos, que aparentava estar sóbrio. Bateu por descuido, não por conta do efeito da ingestão de álcool. Ele ainda tentou se esquivar de meu carro e, felizmente, não conseguiu. Estou certo de que teria atingido o pedestre, que já atravessava a faixa.

Lembrei-me de uma campanha educativa da Prefeitura de Maringá que passa diariamente na TV a cabo local. “Em Maringá, atravesso a rua na faixa, porque muitos motoristas respeitam os pedestres e param na faixa”. Como a utopia soa bem na tevê. Faltou dizer que outros, que não respeitam, passam por cima de quem estiver na frente.

Não demorei para perceber que o estrago no carro seria o menor dos problemas. Ou melhor, demorei, e muito. A Polícia Militar (PM) compareceu para registrar o boletim de ocorrência próximo da meia-noite, duas horas e meia depois de ser acionada. E depois da chegada da PM, lá se foram mais 20 minutos para preencher a papelada. Soube do sargento que se o imposto do veículo não estivesse em dia (ainda bem que estava) eu seria multado e o carro, guinchado. Um tanto justo: quem mandou parar na faixa?

Duas semanas se passaram desde a raiva daquele sábado à noite e, querem saber, o carro ainda não foi consertado. A companhia de seguro do empresário autorizou o conserto, mas há fila na mecânica autorizada e falta de peças no estoque. Nada como andar a pé para perder uns quilinhos.

As campanhas educativas se esforçam para elevar a segurança do trânsito, mas o “sistema” não colabora. Colisão traseira, horas de espera pelo boletim de ocorrência, risco de ter o carro guinchado, perda de ânimo para o programa de sábado à noite com a namorada, falta de peças para o conserto, dias a pé, estresse e cabelos (que já são poucos) a menos... tudo por conta do respeito ao pedestre. Como a batida daquela noite foi em frente à uma pizzaria, tudo terminou em pizza.
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Um comentário:

  1. ASABE PRIMO VOCE CONSEGUE FAZER BOAS HISTORIAS ATE DAS CENAS MAIS COMPLICADAS

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