1 de outubro de 2011
Vergonha no fundo do poço
.
Meu pouco tempo de vida – aos 30, ainda me considero jovem – e também de Maringá não me impedem de afirmar, com propriedade, que a Câmara Municipal viveu em 29 de setembro de 2011 o pior momento de sua história.
Para evitar a revogação de um artigo que restringe a construção de casas geminadas na cidade, o vereador John Alves (PMDB) tirou a camiseta durante a sessão e ameaçou baixar as calças se os colegas insistissem na votação da matéria. Indignados, alguns vereadores deixaram o plenário no ato e a sessão, sem quórum, teve de ser encerrada.
Um episódio vergonhoso, que me leva a refletir, na condição de assídio frequentador das sessões ordinárias (aquela foi ordinária no outro sentido da palavra), sobre o que há de podre por trás do dito artigo 39 a ponto de um vereador se despir para impedir sua revogação?
Semanas antes, a Câmara havia dado um bom exemplo, ao atender ao clamor da população e votar contra o aumento do número de cadeiras. O striptease diante de um plenário lotado – construtores e lojistas do setor marcaram presença para pressionar os vereadores – foi a prova cabal de que o Legislativo fez bem ao manter as 15 cadeiras. Por pressuposto, com mais vereadores o risco de ocorrerem baixarias como essa promovida por John seria maior.
John conseguiu o que queria. Interrompeu a votação e mostrou que ele só precisa falar grosso para a maioria baixar a cabeça e obedecer. Concordo que os vereadores ficaram constrangidos com o episódio, mas largar a sessão por conta disso foi covardia. Deixaram o plenário como cães acuados ao invés de partir pra cima de John, cobrar a saída dele e permanecer para votar a matéria após a bagunça.
Apenas cinco ficaram no plenário: Mário Hossokawa (PMDB), Manoel Sobrinho (PC do B), Mário Verri (PT), Humberto Henrique (PT) e Marly Silva (DEM). Não restou a eles muito mais do que se desculpar com os presentes e levantar suspeitas sobre as geminadas. Qual o tamanho do "bicho da goiaba"?
Um dos vereadores disse que pode recorrer ao Ministério Público para que o projeto seja investigado. Outro, falou que entrará com uma representação, o que pode culminar com a cassação do mandato de John. Quem foi àquela vergonhosa sessão, e ouso falar (escrever) em nome deles, não espera menos que isso.
Também me entristeceu, já na redação, escrevendo a matéria, a reportagem levada ao ar por uma emissora de TV. Em uma conclusão infeliz, o âncora (apresentador do telejornal) fez piadinha com o ocorrido. Uma situação séria como essa não se leva na brincadeira – pelo menos não em público. Alguém, por acaso, tem a ousadia de aplaudir um indivíduo que pisoteie a bandeira nacional?
A luta por um Estado democrático – e muitos pagaram pela liberdade com o próprio sangue – foi por isso? A mácula deixada no Legislativo maringaense não será esquecida por essa geração. Deixei a Câmara, naquela quinta-feira, com vergonha de ser eleitor em Maringá.
Versão completa do artigo publicado no jornal O Diário.
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Meu pouco tempo de vida – aos 30, ainda me considero jovem – e também de Maringá não me impedem de afirmar, com propriedade, que a Câmara Municipal viveu em 29 de setembro de 2011 o pior momento de sua história.
Para evitar a revogação de um artigo que restringe a construção de casas geminadas na cidade, o vereador John Alves (PMDB) tirou a camiseta durante a sessão e ameaçou baixar as calças se os colegas insistissem na votação da matéria. Indignados, alguns vereadores deixaram o plenário no ato e a sessão, sem quórum, teve de ser encerrada.
Um episódio vergonhoso, que me leva a refletir, na condição de assídio frequentador das sessões ordinárias (aquela foi ordinária no outro sentido da palavra), sobre o que há de podre por trás do dito artigo 39 a ponto de um vereador se despir para impedir sua revogação?
Semanas antes, a Câmara havia dado um bom exemplo, ao atender ao clamor da população e votar contra o aumento do número de cadeiras. O striptease diante de um plenário lotado – construtores e lojistas do setor marcaram presença para pressionar os vereadores – foi a prova cabal de que o Legislativo fez bem ao manter as 15 cadeiras. Por pressuposto, com mais vereadores o risco de ocorrerem baixarias como essa promovida por John seria maior.
John conseguiu o que queria. Interrompeu a votação e mostrou que ele só precisa falar grosso para a maioria baixar a cabeça e obedecer. Concordo que os vereadores ficaram constrangidos com o episódio, mas largar a sessão por conta disso foi covardia. Deixaram o plenário como cães acuados ao invés de partir pra cima de John, cobrar a saída dele e permanecer para votar a matéria após a bagunça.
Apenas cinco ficaram no plenário: Mário Hossokawa (PMDB), Manoel Sobrinho (PC do B), Mário Verri (PT), Humberto Henrique (PT) e Marly Silva (DEM). Não restou a eles muito mais do que se desculpar com os presentes e levantar suspeitas sobre as geminadas. Qual o tamanho do "bicho da goiaba"?
Um dos vereadores disse que pode recorrer ao Ministério Público para que o projeto seja investigado. Outro, falou que entrará com uma representação, o que pode culminar com a cassação do mandato de John. Quem foi àquela vergonhosa sessão, e ouso falar (escrever) em nome deles, não espera menos que isso.
Também me entristeceu, já na redação, escrevendo a matéria, a reportagem levada ao ar por uma emissora de TV. Em uma conclusão infeliz, o âncora (apresentador do telejornal) fez piadinha com o ocorrido. Uma situação séria como essa não se leva na brincadeira – pelo menos não em público. Alguém, por acaso, tem a ousadia de aplaudir um indivíduo que pisoteie a bandeira nacional?
A luta por um Estado democrático – e muitos pagaram pela liberdade com o próprio sangue – foi por isso? A mácula deixada no Legislativo maringaense não será esquecida por essa geração. Deixei a Câmara, naquela quinta-feira, com vergonha de ser eleitor em Maringá.
Versão completa do artigo publicado no jornal O Diário.
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