28 de agosto de 2009

Namorei a Paulista

.
Estou convencido de que São Paulo quer me provar que é, de fato, a terra da garoa. Há um mês, fez jus ao título ao me privar do sol durante toda uma semana. Meu retorno à grande metrópole da América do Sul foi num domingo, frio e úmido, de céu em tons de cinza, de novo.

Estava na agenda um passeio no Parque do Ibirapuera, mas a garoa ininterrupta, que se esforçava para molhar, levou-me à Avenida Paulista, a primeira pavimentada de São Paulo capital. A mais famosa avenida do Brasil, que concentra o poder econômico e onde são fechados os grandes negócios do País, é sempre uma boa opção de passeio, faça chuva ou faça sol.

Desta vez, fui de metrô – sossegado, sem as “sardinhas” dos dias de semana. Peguei o trem na estação São Joaquim e segui até a estação Paraíso. Tomei outra linha, sentido Consolação, no outro extremo da Avenida Paulista para, de lá, retornar a pé. Talvez daí aquele divertido – e para mim verdadeiro – ditado: “a Paulista é que nem casamento, começa no paraíso e termina na consolação”.

Namorei a Paulista durante toda aquela tarde de domingo, sem pressa. Comecei devagar. De repente, notava que estava num ritmo mais acelerado e, para aproveitar mais bem o momento, “pisava no freio”. A Paulista estava molhadinha – por causa da garoa, claro –, mas isso jamais espantaria um paranaense curioso, que gosta de ver gente. Num dos lugares mais cosmopolitas do País, estava contente por gozar de boa saúde e poder cruzar, a pé, os quase três quilômetros da avenida.

No primeiro shopping que visitei, vi um grupo de alemães – austríacos talvez, porque falavam na língua de Goethe – bebendo chope e rindo, mas com a discrição inerente aos europeus. Da conversa alheia, entendi que estavam impressionados com o tamanho de São Paulo. “Wunderbar” (maravilhoso) foi apenas um dos adjetivos empregados para classificar a capital. O nerd entre eles, o único com máquina fotográfica em mãos, sugeriu uma foto só com as meninas do grupo. Aliás, belas jovens germânicas, loiras e mais altas que nossa média nacional, viciantes! Remeteram minha mente a lembranças do tempo em que morei na Alemanha.

Parei em dois shoppings, para beber o merecido café expresso, sem açúcar. O segundo “pit stop”, para repor a cafeína, foi no Pátio Paulista, onde me deparei com um grupo de turistas japoneses. Estou certo de que não eram coreanos nem chineses, porque mais de um, a maioria para ser sincero, volta e meia sacava do bolso (ou do pescoço) o celular, sempre do tipo “lançado ontem”, para tirar fotos. Conversavam menos que os alemães, e bebiam refrigerante. Riam sem mostrar os dentes, mas não faço a menor ideia do que falavam. Fiquei curioso para saber o que dizia a nipônica com cabelos com mechas cor-de-rosa – linda de uma forma instigante.

Boa parte do tempo, porém, passei a céu aberto e, por pelo menos meia hora, fiquei no pátio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), observando tamanha diversidade, num momento antropológico de inspiração. Vi gente de várias cores, Estados, nações, credos. Alguns de gravata, outros despreocupados em combinar a calça laranja com o agasalho azul. Moças de cabelos para todos os gostos: roxo, compridos, loiros, curtos, lisos, cacheados, soltos ou amarrados. Rapazes fazendo acrobacias com ioiôs, a fim de chamar a atenção dessas mesmas moças.

São Paulo me encanta por essa riqueza cultural, de costumes mil. Em Sampa, mais do que em qualquer outra cidade do Brasil, dá para ser você mesmo, por mais estranho que você possa parecer. Não importa se você tem carro ou vai de metrô, se tem emprego fixo ou se é autônomo, se veste terno ou se arrisca um saiote (kilt) como se estivesse na Escócia, se é heterossexual ou se é gay, se fuma maconha ou se é contra a liberalização, se fala como paulistano nato ou se tem sotaque de outro lugar. Do jeito que for, numa cidade nada provinciana, sempre vai haver alguém para curtir teu jeito de ser.

Nessa “salada” de tudo e de todos, percebo na Avenida Paulista um “tempero” único. Na via que é a cara de São Paulo, sinto-me em casa e nem noto o tempo passar. Molhadinha ou não, gosto de pegar a Paulista sem pressa, para curtir cada passo. O relógio... só olhei quando alguém me perguntou as horas.


Publicado também em: Recanto das Letras e jornal O Diário (Cultura, 13/01/2016)
.

13 comentários:

  1. muito bom seu post meu primo imagino que Sao apulo deve ser uma bela cidade eu conheço um pequeno pedacinho de Sao paulo a cidade de Serra Negra uma cidade do interior estive la fazendo curso de educaçao infantil biblica a muitos anos fiquei no hotel vale do sol,um lindo hotel.

    ResponderExcluir
  2. São Paulo de faces mil. Definitivamente uma cidade viva. Avenida Paulista que muda de cor, tom e forma ao cair da noite (praticamente palavras suas), mas que é inquestionavelmente fantástica ao raiar do dia.
    Muito bom seu texto Fernando! Com certeza definiu em algumas palavras a sensação de estar nesta avenida.

    ResponderExcluir
  3. Taís, minha prima, fico feliz em saber que para ti foi importante postar por primeiro. Tenho certeza que tanto você, com a Renatha (do post depois do teu) leem o blog... comentaram antes mesmo de eu divulgar nas redes sociais e no MSN. Um beijo para as duas!

    ResponderExcluir
  4. ve se na proxima vez me convida para conhecer essa paulistinha tbm!!

    abcos nobre amigo!

    ResponderExcluir
  5. Mas bah, guri!Tu tá tão bom no texto, que me senti na Paulista contigo, passeando junto!
    Vai um quebra costela prá ti!

    ResponderExcluir
  6. LF,SUA CRONICA COMO TBM A HISTORIA Q ME CONTOU HJ,ME FEZ IMAGINAR ESSA TAL SAO PAULO Q TODOS FALAM COM INTUSIASMO,AINDA ESTAREI LA.SUAS CRONICAS SAO MTO BOAS OU MELHOR SAO OTIMAS,NAO DA PRA LER SO UM TRECHO,A GENTE FICA QUERENDO SABER O DESFECHO DA HISTORIA!BJUS E MTO BOA SORTE!

    ResponderExcluir
  7. LF,

    Vc é o Usain Bolt dos textos, quando achamos que é impossivel melhorar...

    Você escreve cada dia melhor! Está na hora de uma grande editora ganhar dinheiro vendendo um livro seu...

    Estive em São Paulo semana passada. O hotel longe uma quadra da estação de metrô Consolação. Hotel Tryp Paulista na rua Hadock Lobo, uma pena teu curso não ter sido na mesma semana que o meu...
    Poderiamos ter conhecido juntos um pouco dessa cidade mundo que nunca dorme...

    Um grande abraço!
    fique com Deus

    ResponderExcluir
  8. Depois de meu último comentário, em resposta aos amigos, surgem outros quatro, também elogiosos, que merecem resposta. Quero deixar um abraço para o Eiguel, amigo de longa data e que acompanha desde o início deste blog, e para a Mel, minha mais nova leitora, que prepara um café com um pão com manteiga delicioso, na padaria.

    Berriel, minha ex-sogra por 20 dias: um quebra costela pra ti também! Um abraço pra Alegrete.

    Para meu irmão Eduardo nem tenho palavras! Sempre me enchendo a bola. "Usain Bolt dos textos" foi um dos elogios mais interessantes que já recebi, em toda minha vida. Para quem não acompanha atletismo, Usain Bolt é o velocista mais rápido e impressionante do mundo!

    ResponderExcluir
  9. Nota: 8,0

    Thiago Ramari (por email)

    ResponderExcluir
  10. Nota: 5,0

    Elaine Utsunomiya (por email)

    ResponderExcluir

Além de comentar, aproveite para compartilhar a crônica com seus amigos!