27 de outubro de 2009

Para conhecer a audiência

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Acompanho diariamente – desde que fui relocado da editoria de Política do impresso para o site, no início de 2009 – as estatísticas de acessos de O Diário Online. A ferramenta para verificar a audiência é o Google Analytics, a mesma que desde julho passei a utilizar em meus três blogs: Café com Jornalista, LF na Alemanha e este, de crônicas.

Graças ao Analytics, agora posso acompanhar de onde vem minha audiência; quantos acessos tenho por dia, semana e mês; quais as crônicas mais lidas e quanto tempo os leitores permenacem em cada uma delas; além de pormenores como o navegador utilizado pelos leitores – no caso do Blog do LF, em agosto, 57% das visitas se deram via Firefox, contra 30% do Explorer e 10% do Chrome.

Agosto foi o primeiro mês completo de meu blog no Analytics, que revelou 1.015 acessos únicos de um total de 1.629 visualizações de páginas. Para minha surpresa, 794 dessas visualizações ocorreram na página do texto "Fusca para todos, até para loucos", justamente uma de minhas postagens teste, sem pretensão alguma de agradar a audiência. Enquanto isso, a página de entrada do blog teve 403 visualizações, o que representa apenas 50,7% do número de acessos do texto do Fusca.

Foi então que descobri quanto o Analytics pode ser interessante. Com essa ferramenta, soube que grande parte dos acessos no texto do Fusca vem da pesquisa de imagens do Google. Para tirar a prova, digitei "Fusca" no Google Imagens para ver que (pasmem) uma das fotos publicadas Blog do LF surge na primeira página da pesquisa. De duas... duas: o blog está bem ranqueado e o brasileiro ainda curte muito o velho Volkswagen Fusca.

Sabe aquele caso de mídia (cada vez mais recorrente) em que a grande reportagem, com fatos apurados com isenção, com denúncias embasadas por boas fontes, com grande relevância social, por algum motivo perde em audiência para o assunto banal e sensacionalista? O mesmo acontece com minhas principais crônicas frente àquela postagem com imagens dos Fuscas mais bizarros. Isso quem me diz é o Analytics.
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9 de outubro de 2009

"Orfeu e Violeta", a melhor segundo os leitores

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"Orfeu e Violeta", que já liderava o ranking da mais comentadas deste blog, foi eleita a melhor crônica na avaliação dos leitores. O conto, que discorre sobre o encontro entre um jovem de Pato Branco e uma bela moça de Realeza num ônibus a caminho de Maringá, obteve 7 pontos, contra 4 pontos de "Uma linda mulher" – a segunda crônica mais lembrada.

Ao votarem em seus textos preferidos, os amigos contribuíram com a seleção das 12 melhores crônicas do Blog do LF, que vão compor um livreto mais adiante. Na fase decisiva, jornalistas convidados vão avaliar as 17 mais bem classificadas até o momento. Veja quais são elas no Café com Jornalista.

A pontuação corresponde à somatória da primeira fase (número de comentários) com a segunda fase (pontos dados pelos leitores).
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7 de outubro de 2009

As curvas de Maringá

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Ao voltar de São Paulo, a reflexão de sempre: como Maringá é arborizada! E como tem mulheres bonitas – tanto quanto (ou até mais do que) árvores. A constatação é espontânea de tal modo que se torna impossível não repeti-la toda vez que retorno a essa cidade abundante em verde, flores e curvas.

Nas passadas sem pressa rumo à cafeteria preferida, a natureza deu-me as boas-vindas com uma casca de semente de sibipiruna, que deve ter deixado em meu rosto a marca do impacto. Sibipirunas que, na primavera, decoram Maringá em verde e amarelo, com pequenas flores que liberam uma resina grudenta, o terror dos para-brisas dos veículos. "Antes as flores e as cascas de sibipiruna do que as pombas", pensei.

As boas-vindas, Maringá parcelou em duas vezes, a segunda delas "paga" já na cafeteria do shopping. Livre da dieta do açúcar, bebia um café expresso com creme e chocolate, meio amargo, e lia "Traçando New York", livro de Luis Fernando Verissimo recém-comprado num sebo. Na mesa mais afastada do balcão e mais próximo da janela, concentrado na leitura e no café, perdi a majestosa chegada de Liana – suponho que tenha sido majestosa e não tenho a mínima ideia do nome verdadeiro da moça.

Aparentava 1,60m de altura, 20 anos, menos de 50kg, do tipo intelectual embora nada nerd. Tinha cabelos longos, lisos e ruivos que se esforçavam para tocar sua cintura – uma cinturinha para apreciar sem moderação –, e ainda pele clara, olhos verdes e esbeltas coxas, valorizadas pelo shorts curto, porém, comportado. Pediu um café gelado e sacou da bolsa um livro com marca-texto que indicava uma leitura nas páginas finais.

Uma linda jovem, que curte um bom livro regado a café, na livraria com música ao vivo... ahhhh!... uma miragem, um oásis no deserto escaldante. Fiquei com sede, ou melhor, encantado. Esqueci Verissimo e concentrei minha atividade cerebral numa estratégia de aproximação. Precisava ser notado e, mais, causar boa impressão.

Duas rápidas e discretas trocas de olhares me carregaram da coragem necessária para avançar contra os "inimigos": o risco de um fora e o receio de nunca mais tornar a vê-la (caso não tomasse uma iniciativa). Notei que ela estava na mesa 28, com número escrito em fonte igual a que indicava, na passagem, o portão de embarque (também 28) no Terminal da Barra Funda, em São Paulo, um dia antes.

"É um sinal, só pode", alertou minha mente, cobrando-me ação. "Pense em alguma coisa, rápido", insistiu. "E se ela se levantar, for embora e você nunca mais tornar a vê-la?". Minha mente estava certa e eu, se não acatasse seu incentivo, poderia vir a lamentar por algo que deixei de fazer.

Sujeito daqueles que crê que nada acontece por acaso, nem mesmo a repetição da fonte do número 28, tive de agir, sem ser inconveniente. A moça estava concentrada na leitura (ou bem fingia estar), talvez tanto quanto meus olhos estavam nela, e no shorts dela. Optei pela clássica estratégia do bilhete, que no futebol seria correspondente à formação 4-4-2, um tanto defensiva, sem ser retranqueira. No bilhete, assinado com meu endereço de MSN, escrevi:

Como é raro, hoje, mulheres irem ao shopping para ler um bom livro e beber café! Mais raro, ainda, é encontrar com essas mulheres, lindas como você. Gostei de ti e quero te conhecer, mas não quis atrapalhar a leitura.

Corri à papelaria ao lado comprar um pequeno envelope. Depositei o bilhetinho nele e, com os dedos cruzados, pedi a um dos atendentes da livraria que entregasse a "encomenda" à ruiva da mesa próxima à janela. "Não vejo nenhuma ruiva perto da janela", disse o rapaz, para minha surpresa.

A estratégia havia falhado, a moça não estava mais na mesa. Com os óculos bem calibrados, vi o "oásis" na fila do caixa, do outro lado da loja, aguardando para pagar a conta. O único plano B seria pegar a fila e, na primeira oportunidade, puxar conversa. Foi o que fiz. Ela respondeu o tímido "oi" com um "oiiii" sorridente e meigo, olhando-me nos olhos, com seus perolados olhos verdes. Num lapso de falta de reação de minha parte e para fazer valer o imbecil ditado de que "alegria de pobre dura pouco", o atendente lançou o aviso em bom tom: "próximooo!"

E Liana pagou a conta no caixa 1, enquanto eu acertava meu café (e o envelope do plano do bilhete) no caixa 3. Na demora do equipamento em ler meu cartão de crédito, ela foi embora sem que eu notasse, sem que eu soubesse seu verdadeiro nome, sem me dar a chance de entregar o bilhete. Saí dali, dei algumas voltas nos quatro pisos do shopping e não mais a vi.

Dentre tantas lindas maringaenses, a ruiva – de cintura bem definida e cabelos esvoaçantes – destacou-se de todas aos meus olhos. Ao menos naquele dia, eram dela as mais belas curvas da cidade. Na expectativa de vê-la passar, aguardei em vão no banco de concreto em formato de onça-pintada, em frente à entrada principal do shopping. A mesma onça que já testemunhou inúmeros inícios de namoro, desta vez, não pôde fazer nada, senão servir de consolo.
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