17 de julho de 2019

Embaixador não precisa 'fritar' hambúrguer

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Deputado federal mais votado da história do país, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), não serve para ser diplomata, quanto mais embaixador. Há algumas centenas de justificativas para embasar essa afirmação, mas quatro motivos triviais já bastam. Nem sequer é preciso discutir se a indicação é nepotismo ou não.

Vejamos os motivos que desqualificam o terceiro filho do presidente para o cargo de embaixador.

1) Inglês. Há gravações em que o filho do presidente aparece falando inglês, como numa entrevista para um canal dos EUA, por exemplo. Uma busca rápida no YouTube vai apresentar uma série de situações. Em todas elas, fica evidente que ele pode até ser considerado fluente para os padrões de um "fritador" de hambúrguer (sem desmerecer a categoria), mas certamente não o é para os padrões de um embaixador.

2) Francês, a língua da diplomacia! Todo diplomata tem de falar francês. Se não for fluente nesse idioma, não tem qualquer chance de ser aprovado no teste de admissão para o Instituto Rio Branco, que forma os diplomatas no Brasil. O candidato em questão fala francês? Ainda não vi ninguém o questionando a respeito.

3) Português. O conhecimento da língua oficial do país é fundamental e, no caso de um diplomata (e de um embaixador muito mais), isso inclui a excelência na língua escrita. Onde estão os textos publicados por Eduardo Bolsonaro para confirmar essa qualidade? Será que ao menos artigos em jornais ele já publicou? Ele tem algum livro ou estudos publicados?

4) Conhecimentos gerais. Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata tem, já em sua primeira fase (são três ao todo), uma rigorosa prova, de caráter eliminatório, que versa sobre história do Brasil e do mundo, política internacional, geografia, economia e noções de direito e de direito internacional, entre outros assuntos. Notem que a habilidade de "fritar" hambúrguer não é um pré-requisito.

As qualidades que Bolsonaro pai vê em seu filho são, de longe, insuficientes para que ele pudesse ocupar qualquer posto diplomático, inclusive fora da carreira. Não creio que, pelos próprios méritos (sem o QI de um pai presidente), ele reunisse condições para ser estagiário numa embaixada. Um de seus argumentos, aliás, foi o de já ter "fritado" hambúrguer nos Estados Unidos e de já ter feito intercâmbio. Nem o verbo adequado ele foi capaz de empregar. Hambúrguer – e os experts no assunto sabem bem – é grelhado ou feito na chapa, o que se frita é o bolinho de carne.

Não é a primeira vez, aliás, que vemos um presidente da República cogitar a nomeação de um correligionário para o cargo de embaixador. Em 2012, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), o nome de Marta Suplicy era aventado para o posto de embaixadora em Washington. Também naquela oportunidade, diplomatas de carreira criticaram a possibilidade, com razão.

O que mais me surpreende é a humildade da classe política. Por que Eduardo Bolsonaro e Marta Suplicy não cogitaram uma embaixada menor (do ponto de vista econômico) para ganhar experiência, como Bolívia, Paraguai, Suriname, Sudão, Omã etc. Sempre que a vontade de ser embaixador surge em alguém que não é de carreira, geralmente, a ambição recai sobre as embaixadas mais cobiçadas, como a dos Estados Unidos, da França, da Alemanha, da Itália ou do Canadá.

Ainda sobre conhecimentos gerais, a participação Eduardo Bolsonaro no programa do Silvio Santos – juntamente com seu irmão Flávio – foi uma vergonha, expondo ao Brasil que o político em questão não tem os mais básicos pré-requisitos para ser embaixador. Se chegar lá, fará o Brasil passar mais vergonha do que já tem passado com o Bolsonaro pai. A indicação é do presidente, mas a palavra final é dos senadores. Que a Casa revisora no Congresso tenha piedade de nós.