O que Sensação faz quando está acompanhada, entre quatro paredes, ninguém fica sabendo - a não ser que a companhia seja de uma turma de amigos. Na véspera do feriado, certa altura da madrugada, o porteiro bateu à porta para avisar que alguns vizinhos estavam reclamando dos decibéis acima da conta. A sexta-feira, todos ali sabiam, era santa, mas ninguém disse que precisava ser silenciosa.
A protagonista da vez é uma mulher bem resolvida. Pouco mais de 30 anos, morena de pele clara, alta e magra, Sensação tem um bom emprego, carro e apartamento próprio, enfim, paga suas contas. Não é casada e, dizem os amigos, melhor que seja assim - do contrário, temem perder uma grande companhia. Enquanto ela não engata um namoro firme, aproveita a vida de solteira para receber em sua ultra-bem-ajeitada residência os amigos e amigas mais "vips" (como ela bem diz).
A primeira a chegar foi Diliça, a autoestima em pessoa, que surgiu acompanhada de Fanta Uva e Mortal. Ele trouxe vinho e Fanta Uva, uma fome de leão. Platini e sua noiva Rafaella também não demoraram a chegar, com um engradado de cerveja e dois pacotinhos de amendoim. "Convidei o Zidane, será que ligo para ele", questionou Sensação, pouco antes da meia-noite, toda preocupada com uma possível ausência do "craque francês". Diliça e Mortal se olharam, numa fração telepática de segundo, como se tivessem em mente a mesma sentença: "quanto interesse no Zidane, aí tem coisa hein".
Zidane surgiu, mais careca do que nunca, porém, com a mesma boa forma dos tempos de Copa do Mundo. Certamente, ganhou alguns pontinhos com a anfitriã da noite. Sensação é uma mulher doce, de lida fácil, mas tende a sofrer alterações bruscas de humor quando seus amigos aceitam o convite e, depois, não comparecem. Foi o caso de OFFíssima, O Cara e Lois Lane. Esta, do alto de sua aguçada esperteza, enviou uma suculenta torta salgada para compensar a ausência e, assim, garantir mais alguns anos de vida. OFFíssima e O Cara agendaram outros compromissos e, infelizmente, a uma altura dessas já devem ter perdido o pescoço.
No calar da noite, o apartamento de Sensação era um alto-falante. Diliça dizia que precisava encontrar o botão do volume de Mortal e Platini, mas era ela quem tagarelava mais alto. Bebendo vinho ou cerveja, comendo amendoim ou torta, todos riam, todos falavam, todos contavam um causo engraçado, todos choravam (claro, de tanto rir).
Já pelas tantas da madrugada, Platini, o exagero-man em pessoa, relatava algumas de suas mirabolantes histórias, quase todas desmentidas ou diminuídas por Rafaella. Verdade ou mentira, ele garantia à galera gargalhadas de fazer faltar fôlego. Platini não é o cara, mas, quatro garrafas de vinho depois, todos o achavam o mais divertido, todos precisavam respirar fundo ao fim de cada "piada".
O ápice do show amador de humor ainda estava por vir. Não se sabe por que, Sensação resolveu mostrar ao pessoal um presente indiscreto que havia ganhado dias antes: uma caixa de bombons proveniente de um sex shop. O único chocolate que sobrara na caixa foi, num piscar de olhos, arrebatado por Platini. De repente, estava ele com o pinto de chocolate na mão, todo faceiro, apontando o "trubisco" para Zidane. Aí sim, faltou fôlego.
Sem sucesso, Rafaella insistia: "larga esse negócio aí". Platini segurava o "negócio" como ser fosse uma pistola, bem mirada contra Zidane, que por sua vez disfarçava o sorriso - não queria que percebessem que estava gostando da cena. Mortal procurava, urgentemente, uma máquina fotográfica para registrar o momento. Diliça foi flagrada pelas lentes de tal modo que seu pensamento parecia legendado: "esse eu pegava!". Sensação e Fanta Uva se esforçavam, em vão, para conter a barulheira generalizada.
Já era passado das 4 horas quando, com alguma insistência, Platini se decidiu pelo desarmamento. E só o fez porque a pistola começara a se derreter na mão dele. Isso tudo, e muito mais, ficou documentado em fotos, para a posteridade, para que os netos de cada um possam ver - muito lá no futuro - o quanto bacanas eram seus avós. Pena que as imagens, que dizem valer por mil palavras, não consigam guardar o som daquelas boas e intermináveis risadas. Todos se divertiram muito, exceto os vizinhos.