18 de agosto de 2010

As mulheres vão dominar o mundo

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Duas mulheres concorrem à presidência da República nas Eleições 2010. Nas pesquisas de intenções de voto uma está na liderança e a outra, em terceiro. A iminência de o Brasil ter uma presidenta, pela primeira vez em sua história, revela que elas têm se destacado até mesmo em território onde os homens costumam dominar, como a política. Em uma sociedade que insiste em alimentar certos machismos, as mulheres vêm roubando a cena, a passos largos.

As mulheres ainda são minoria nos postos de chefia das grandes corporações e também em cargos públicos. Na comparação com os homens, recebem menos pelo desempenho de uma mesma função. Detalhes que parecem fazer parte de um bem arquitetado plano feminino de dominar o mundo. Uma conspiração, de momento notada apenas por "agentes secretos" infiltrados, a qual sinto-me obrigado a revelar ao universo masculino: elas vão dominar o mundo e o esperam fazer discretamente – assim como quando traem –, sem que eles percebam suas aspirações.

Recebi, de dois desses agentes secretos, um relatório minucioso. Mendes e Oliveira – como se apresentaram, embora eu desconfie não se tratar de seus nomes verdadeiros – se infiltraram em uma organização feminina, criada para produzir conteúdo subliminar para as mulheres classificadas como "multifuncionais". Trata-se de um código. "Multifuncionais são todas as mulheres que já se tornaram independentes e que, agora, estão no comando da revolução feminina", relatou Oliveira, no relatório.

Dilma Rousseff, Marina Silva, Cristina Kirchner, Michelle Bachelet, Angela Merkel e Hillary Clinton, para citar apenas nomes da política, são "multifuncionais". Xuxa e Gisele Bündchen também fazem parte do "time". A rainha dos baixinhos conquistou a confiança dos meninos e, como se não bastasse, teve a seus pés o maior ídolo do esporte brasileiro: Ayrton Senna. Nos anos 80 e 90, todos gostavam dela. Gisele veio depois, de modo a consolidar a submissão masculina pela força de sua beleza. "Ter os homens de quatro por elas faz parte desse plano feminino", advertiu Mendes.

Em ação de contra-espionagem, Mendes e Oliveira compilaram dados de pesquisas que apontam para uma supremacia feminina. Foi-se o tempo em que os homens mandavam... e elas obedeciam. Segundo dados do instituto Nielsen, as mulheres chegaram a 2010 de posse de 50,2% dos cartões de crédito. Até aí nenhuma novidade, pois elas sempre adoraram ter a bolsa recheada do "dinheiro eletrônico". Nota de 50 amassada no bolso da calça é coisa macho; cartões de várias bandeiras é coisa de mulher.

O que chama mais a atenção no relatório da dupla espiã é o avanço das multifuncionais no mercado de trabalho. Donas de 56% dos bancos das universidades brasileiras, elas já são 6,3 milhões de empreendedoras e presidem 20% das empresas do País. "Cada dia que passa as mulheres precisam menos dos homens. Cresce o número de solteiras convictas, que recorrem a garotos de programa e namorados ocasionais para se satisfazer", diz o relatório, na cabulosa página 666.

Assustado? Então senta e toma uma água com açúcar, que tem mais. Minha pressão disparou quando li o trecho abaixo do relatório, no capítulo em que Mendes e Oliveira dispõem sobre o interesse delas pela maior paixão masculina: o automóvel. Ainda bem que Henry Ford não viveu pra ver isso.

Às multifuncionais ter dez cartões de crédito per capita, ter postos de chefia nas grandes empresas, ter filho por produção independente, não basta. Elas querem o que é mais sagrado para os homens — anuncia o documento da espionagem. — Pesquisa feita com 7 mil clientes das principais montadoras, ao longo de três anos, revela que 42% da compra de carros novos no Brasil pertence ao público feminino. Não satisfeitas, ainda influenciam cerca de 30% das aquisições de automóveis feitas pelos homens — acrescenta o documento.

A conspiração pode parecer piada, mas é verdade. Fui levado a um local ermo, com olhos vendados, 20 minutos de carro, onde conheci Mendes pessoalmente. Antes da conversa, em sala com pouca luz, quis ele a confirmação de que eu não havia dito nada do encontro secreto a mulher alguma. Respondi que não, e fiz perguntas:

Por que tanto mistério Mendes, por que a venda nos olhos?
Sem esses cuidados, sua vida também correria risco – alertou-me o agente.
Fiquei surpreso com o relatório...
Elas querem o nosso lugar – interrompeu-me o agente de sotaque carioca, alto, camisa preta e óculos escuros. – E depois que elas dominarem o mundo, vamos virar meros cachorrinhos delas.
Você assinou o relatório com um tal de Oliveira. Cadê ele?
Foi assassinado.
Quando? Como?
A mãe dele morreu e o cerimonial fúnebre o forçou a retornar à cidade natal, Alegrete, nos pampas do Rio Grande do Sul. No caminho, o ônibus em que ele estava explodiu.
Vi isso no noticiário, há um mês. Foi um acidente – interpelei.
Muita coincidência o acidente ser uma colisão frontal com um caminhão-tanque, carregado de querosene, numa reta. Não acha?
– Put*#% merd*&# – exclamei.

Estava assustado. A teoria da conspiração, revelada no relatório, passara a fazer algum sentido. Mendes se recusou a informar para qual agência trabalhava. Disse-me estar treinado para aguentar qualquer tipo de tortura, mas sabia que eu revelaria segredos na primeira agulhada embaixo da unha. Bastava que uma única pessoa abrisse o bico para pôr toda a sociedade de contra-espiões em perigo.

E por que você enviou o relatório justamente para mim?
Trabalhamos em duplas – começou a relatar Mendes – e creio que as multifuncionais descobriram minha identidade e a de Oliveira. Outros dos nossos podem estar correndo perigo...

Após um gole de água, prosseguiu:

então resolvi procurar a imprensa. O maior líder da resistência masculina foi ludibriado por elas e, em breve, o poder estará nas mãos das multifuncionais.
Quem é esse líder, não li isso no relatório – indaguei.
O presidente Lula, que de uma hora pra outra surgiu com o nome da Dilma como sua sucessora e agora, na campanha, trabalha para que ela assuma o poder.
A Dilma é a líder das feministas?
Multifuncionais – corrigiu-me Mendes. – Não, mas ela é de inteira confiança da verdadeira líder, a qual ainda desconhecemos a identidade.
Tábom, se a Dilma tomar o poder no lugar do Lula, ainda teremos o Obama.
Engano seu. A esposa de Barack Obama manda nele, assim como ocorria entre Hilary e Bill Clinton. Agora coloque a venda nos olhos que a conversa acabou.
O que devo fazer com o relatório.
Compartilhe com jornalistas de sua confiança caso eu morra e Dilma dispare para a vitória na disputa com Serra.

Recentes pesquisas de intenção de voto apontam que Dilma Rousseff (PT) abre vantagem contra José Serra (PSDB) e se aproxima de uma vitória ainda no primeiro turno, embora nada esteja definido. Quanto a Mendes, o reconheci, nas imagens do noticiário, entre os clientes e funcionários baleados em um assalto a banco no Rio de Janeiro. Mendes, que aguardava para falar com seu gerente, levou um tiro certeiro nas costas. Morreu no hospital.

Publicado primeiramente em: Plano Feminino.

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