31 de janeiro de 2020

Luiz, respeita Januário

Como repórter da área de política, no extinto jornal O Diário, cobri a Câmara Municipal por vários anos. Alguns vereadores me diziam que eu era mais assíduo nas sessões ordinárias da Casa do que alguns de seus pares – o que não deixava de ser verdade.



O foco da cobertura costumava estar nas sessões, duas delas por semana, muitas vezes com pautas polêmicas. Houve até mesmo o caso de um vereador que se despiu diante do plenário para tentar interromper uma votação. Coisas do arco da velha em uma casa legislativa que hoje, felizmente, está mais comportada.

O curioso é que algumas das melhores matérias não surgiam da pauta ou de votações polêmicas, mas daquilo que não estava escrito na ordem do dia. Os babados dos corredores nem sempre são percebidos por quem não é funcionário da Câmara, eram aí que entravam as fontes e seus offs, oferecendo subsídios para que os jornalistas traduzissem em matérias os rumores dos bastidores da política.

O jornalista Lauro Barbosa era uma fonte valiosa, assim como tantos outros assessores parlamentares. Todos procuravam enaltecer o papel de seus vereadores, o que se espera do assessor, cabendo ao repórter filtrar a mera promoção do político daquilo que era realmente de interesse público. Nesse cenário, Lauro era um dos mais bem informados, sempre com casos apetitosos, prontos para virar ótimas notícias – manchetes, talvez.

Ultimamente, mesmo com a saúde debilitada, Lauro tirava um tempo para compartilhar meus textos de assessoria sindical ou, ainda, para divulgar meus e-books de crônicas. Vender livros não é tarefa fácil, não no Brasil, de pouca leitura e de muito WhatsApp e fake news. O amigo sabia disso, e fazia questão de ajudar. No entanto, quando eu o encontrava pela cidade, preferia relembrar os bons tempos na Câmara a falar dos livros. Triste saber que isso não será mais possível. 

Neste último dia de janeiro de 2020, Lauro partiu para um outro plano, não sem antes lutar contra uma série de problemas de saúde, alguns dos quais ele compartilhava com amigos em suas redes sociais. Foi assim também no leito de morte, em postagem com tom de despedida. "Me despeço de vocês para um até breve, um abraço para todos vocês e fiquem com Deus", escreveu, em seu Facebook, menos de uma hora antes de o jornalista Angelo Rigon noticiar sua morte.

No luto, família, amigos, colegas, cada qual procura resgatar da memória boas lembranças de quem diz adeus. Com uma simpatia rara, quando me encontrava na sala de imprensa do plenário da Câmara, antes mesmo de um bom dia ou boa tarde, Lauro toda santa vez dizia: "Luiz, respeita Januário".

Mas antes de fazer fazer bonito e de passagem por Granito ///
Foram logo me dizendo ///
De Taboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó /// 
Januário é o maior, é o maior ///
E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó /// 
Luiz respeita Januário, Luiz respeita Januário ///

Sempre que eu ouvir alguém falar Januário, vou me lembrar da canção de Luiz Gonzaga. Culpa sua, caro Lauro. Descanse em paz, querido colega. Maringá perde uma grande figura, dessas que fazem falta.


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