28 de dezembro de 2010
Iracema vai se casar
.
Soube que uma paixão do passado, alguém de quem gostei sem medo de ser feliz, vai se casar. Por um instante, fiquei sem palavras. Não sei ao certo o que senti naquele momento. A notícia não trouxe tristeza ao meu coração, tampouco felicidade. Buscando compreender um sentimento que me fora apresentado pela primeira vez em quase 30 anos de vida, encontrei em uma canção do saudoso Tim Maia – a qual recordei com auxílio de um bom amigo – uma explicação razoável.
"Paixão antiga sempre mexe com a gente. É tão difícil esquecer / Basta um encontro por acaso e, pronto, começa tudo outra vez". Ouvi "Paixão Antiga" uma dezena de vezes. Lamentei o fato de que grandes vozes, como Tim, tenham partido tão cedo. Enquanto isso, nossos ouvidos são "agraciados" com doses cavalares de Joelmas que, a considerar a incansável Lei de Murphy, terão fôlego para cantar até os 130 anos de idade.
Como poderia imaginar que nossas vidas tomariam rumos tão diferentes. Como bem cantava Tim: "Foi bom demais, não tinha que acabar". Mas acabou. Na década que chega ao fim, o destino tentou nos aproximar novamente, algumas vezes. Como é doce o beijo de quem se gosta. Penso que o destino quase teve êxito. Não tinha que acabar, mas acabou.
Três anos mais jovem do que seu admirador nada secreto, Iracema não faz jus ao nome indígena. Na faculdade, a descendente de italianos, de pele clara e cabelos e olhos castanhos, destacava-se das demais colegas de jaleco branco. A primeira vez que a vi foi na biblioteca, numa fria manhã de outono. Se faltou ousadia para puxar conversa, naquele dia, sobrou esperteza. Foi a bibliotecária, dona Helda, que fez o favor de levantar a ficha de Iracema a meu pedido. De quebra, Helda topou entregar um bilhete meu à bella italiana.
Estudava Jornalismo à noite e, durante o dia, trabalhava na faculdade. Volta e meia, levava ou buscava alguns livros a pedido do coordenador do curso. Depois de ver Iracema pela primeira vez, tudo era motivo para ir à biblioteca. Entre as estantes de livros, após o bilhete surtir efeito, se deu a primeira troca de olhares. Era como em outro trecho da canção de Tim: "eu, sem disfarçar, te como com meu olhar".
Encontrávamos no intervalo das aulas e fora da faculdade o mIRC – ferramenta de bate-papo que nem existe mais – ajudava a matar a saudade. Desejava vê-la sempre e era prazeroso estar próximo dela. Não bastasse sua beleza, a voz de Iracema (a considerar o exagero da paixão) era doce e meiga como a de uma sereia – ou ao menos como eu imaginava ser a voz de uma sereia.
Com a trágica morte de seu pai, Iracema se afastou de mim. Com o término de meu estágio, afastei-me dela. Achei que um tempo seria bom e, na pausa de um romance que tinha tudo para dar certo, conheci uma outra estudante, da mesma faculdade. Em dois anos, namorei e fiquei noivo. Uma grande amiga e colega de Jornalismo me alertou: "você não está sendo precipitado?" Estava. Casei meses depois de me formar... e a precipitação, claro, não teve um final feliz.
Em meu íntimo, repeti uma pergunta por meses a fio após a separação: "por que razão me casei com quem me casei?" Descobri que não conhecia o caráter da mulher que havia levado ao altar e, anos depois, ainda não tenho respostas àquela pergunta, que repeti a mim mesmo um milhão de vezes. Hoje, imagino o que Iracema deve ter sentido ao tomar conhecimento de meu casamento. Talvez não seja muito diferente do sentimento que Tim Maia me ajudou a compreender numa solitária tarde de verão.
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Soube que uma paixão do passado, alguém de quem gostei sem medo de ser feliz, vai se casar. Por um instante, fiquei sem palavras. Não sei ao certo o que senti naquele momento. A notícia não trouxe tristeza ao meu coração, tampouco felicidade. Buscando compreender um sentimento que me fora apresentado pela primeira vez em quase 30 anos de vida, encontrei em uma canção do saudoso Tim Maia – a qual recordei com auxílio de um bom amigo – uma explicação razoável.
"Paixão antiga sempre mexe com a gente. É tão difícil esquecer / Basta um encontro por acaso e, pronto, começa tudo outra vez". Ouvi "Paixão Antiga" uma dezena de vezes. Lamentei o fato de que grandes vozes, como Tim, tenham partido tão cedo. Enquanto isso, nossos ouvidos são "agraciados" com doses cavalares de Joelmas que, a considerar a incansável Lei de Murphy, terão fôlego para cantar até os 130 anos de idade.
Como poderia imaginar que nossas vidas tomariam rumos tão diferentes. Como bem cantava Tim: "Foi bom demais, não tinha que acabar". Mas acabou. Na década que chega ao fim, o destino tentou nos aproximar novamente, algumas vezes. Como é doce o beijo de quem se gosta. Penso que o destino quase teve êxito. Não tinha que acabar, mas acabou.
Três anos mais jovem do que seu admirador nada secreto, Iracema não faz jus ao nome indígena. Na faculdade, a descendente de italianos, de pele clara e cabelos e olhos castanhos, destacava-se das demais colegas de jaleco branco. A primeira vez que a vi foi na biblioteca, numa fria manhã de outono. Se faltou ousadia para puxar conversa, naquele dia, sobrou esperteza. Foi a bibliotecária, dona Helda, que fez o favor de levantar a ficha de Iracema a meu pedido. De quebra, Helda topou entregar um bilhete meu à bella italiana.
Estudava Jornalismo à noite e, durante o dia, trabalhava na faculdade. Volta e meia, levava ou buscava alguns livros a pedido do coordenador do curso. Depois de ver Iracema pela primeira vez, tudo era motivo para ir à biblioteca. Entre as estantes de livros, após o bilhete surtir efeito, se deu a primeira troca de olhares. Era como em outro trecho da canção de Tim: "eu, sem disfarçar, te como com meu olhar".
Encontrávamos no intervalo das aulas e fora da faculdade o mIRC – ferramenta de bate-papo que nem existe mais – ajudava a matar a saudade. Desejava vê-la sempre e era prazeroso estar próximo dela. Não bastasse sua beleza, a voz de Iracema (a considerar o exagero da paixão) era doce e meiga como a de uma sereia – ou ao menos como eu imaginava ser a voz de uma sereia.
Com a trágica morte de seu pai, Iracema se afastou de mim. Com o término de meu estágio, afastei-me dela. Achei que um tempo seria bom e, na pausa de um romance que tinha tudo para dar certo, conheci uma outra estudante, da mesma faculdade. Em dois anos, namorei e fiquei noivo. Uma grande amiga e colega de Jornalismo me alertou: "você não está sendo precipitado?" Estava. Casei meses depois de me formar... e a precipitação, claro, não teve um final feliz.
Em meu íntimo, repeti uma pergunta por meses a fio após a separação: "por que razão me casei com quem me casei?" Descobri que não conhecia o caráter da mulher que havia levado ao altar e, anos depois, ainda não tenho respostas àquela pergunta, que repeti a mim mesmo um milhão de vezes. Hoje, imagino o que Iracema deve ter sentido ao tomar conhecimento de meu casamento. Talvez não seja muito diferente do sentimento que Tim Maia me ajudou a compreender numa solitária tarde de verão.
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Tenho medo disso acontecer, e essa indiferença que tu sentiu, nem alegria nem tristeza é um dos piores sentimentos; a ausência deles.
ResponderExcluirBom, não preciso dizer que tu escreve pra caralh* né?
Beijo
Sempre assim as pessoas só pensam em como poderia ter sido depois que tudo já esta acabado, infelizmente
ResponderExcluirMe ajude a usar as ferramentas do Twitter e criar um Blog pra mim!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, amigo! sabe uma vez eu li, ou ouvi alguem dizer, acho que era um filósofo, não lembro, que a gente sente falta não só da pessoa, mas do amor que a pessoa proporcionava, do sentimento:amor! sinto isso também por algúem...tentamos, mas o sabor primeiro mudou, não volta mais e a gente sente uma saudade!hehehe abraços e suceeso!
ResponderExcluirFer querido... Como fazemos escolhas erradas, outras acertadas... mas enfim, o importante é aprendermos com elas! Mas que vc seja muito feliz, meu amigo querido!
ResponderExcluirAno novo de escolhas novas e corretas! : )
Escolhas né LF!!!
ResponderExcluirSão essas escolhas, muitas vezes erradas, que nos fazem pensar que poderia ter sido diferente!
Mas ainda assim acredito que o tempo se incube de equilibrar nossas escolhas... ou pelo menos minimizar as consequências... no final tudo dá certo (assim esperamos)
Daquelas dores que uma dia vêm, sem por que, pra que e sem a gente esperar. Mas incomodam...
ResponderExcluirLf, acertou na veia! Quantos de nós não fizemos a(s) escolha(s) errada(s)? Pena que só podemos fazer algo pelo presente e pelo futuro. Nada pelo passado. Nâo olhar para o passado não basta. Ver, no presente, essa paixão antiga se casando deve ser de doer. Ou melhor, ouvir Tim Maia sozinho e tomando uma cerveja pra esquecer. E, torcer, no íntimo, para que dê errado e um dia os dois se reencontrem com suas experiências frustradas de vida. Abraços! Ótimo texto!
ResponderExcluirCão raivoso.
LF, pode colocar som neste post aí. Pronto, enviei a trilha sonora:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=UYjMfI1KmlQ&feature=player_embedded
LF já passei por isto uma vez e foi muito difícil.Porém,apesar de importante, creio que um outro amor foi suficiente capaz de preencher a relevância de um anterior. Graças a Deus, aliás, senão seríamos fadados a viver de um pretérito imperfeito.
ResponderExcluirGostei da crônica.
Hmmmmmmm que texto bonitooo!
ResponderExcluirAmei!
Fiquei impressionado com o retorno dado nos comentários. Creio que muitos se identificaram com o relato desta crônica. Um anônimo até me sugeriu música de Reginaldo Rossi, além daquela de Tim Maia citada no texto. Falhei apenas ao deixar de mencionar que estou namorando e que creio ter feito ótima escolha (uma descendente de alemães de olhos azuis). De certa forma, isso também contribuiu para alimentar aquele sentimento que não soube explicar.
ResponderExcluirDo Autor.
PS.: o Eduardo, que pedia ajuda para montar seu blog, já virou blogueiro. Confiram: http://www.eduardo-cardoso.blogspot.com
Apenas para constar: Iracema se casou.
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