19 de setembro de 2011

Champions League

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A votação do número de vereadores em Maringá foi única. Fosse um show, diria: "valeu o ingresso". Nunca antes houve tamanha mobilização em torno de uma matéria apreciada no Legislativo maringaense. Pelo interesse popular, qualquer que fosse o resultado, a democracia sairia ganhando.

Em jogo estava a disputa pela manutenção das 15 cadeiras contra o aumento para 21 ou o limite constitucional para Maringá, 23. Uma quarta opção, passível de descrédito, sugeria a redução para 9. Pura demagogia. A proposta tinha como signatário um dos vereadores que lutavam pelo aumento e, indignado com a falta de apoio da maioria, fazia birra: "se não for pelo aumento, então vou votar pelo mínimo".

Na histórica sessão ordinária, plenário lotado. Dos 290 assentos, mais de dois terços eram ocupados pelo movimento que cobrava a permanência em 15. Todos uniformizados, de posse de adesivos da campanha e vestidos com camisetas pretas bacadas pela associação comercial. Alguns poucos corajosos, pró-21 ou 23, erguiam seus cartazes escritos a mão, em apoio a seus vereadores – a minoria na votação.

Da área reservada à imprensa, bebericando um cafezinho preto, o repórter que vos escreve observava atentamente a multidão, instantes antes da votação. O cenário lembrava uma decisão de campeonato de futebol, no qual, os vereadores eram os jogadores. No "gramado", somente a eles era dado o direito – conquistado pelo sagrado voto – de disputar a partida e marcar os gols da vitória. Aos mortais, restava torcer.

Como em qualquer grande clássico, emissoras de tevê e repórteres fotográficos disputavam o melhor ângulo para suas lentes. Ai de quem não voltasse à redação com a melhor imagem; teria de se explicar com o editor-chefe. Uma rádio e o próprio site da Câmara faziam transmissão ao vivo e um portal de notícias publicava as novidades minuto a minuto.

A maioria dos profissionais de imprensa estava ali, no "estádio", pela primeira vez no ano, sem a mínima noção das regras do jogo. Finalíssimas são assim mesmo, despertam atenção especial da mídia, inclusive de quem não é do ramo. O público, tão ansioso quanto a imprensa pelo pontapé inicial, observava os jogadores (vereadores) em aquecimento. Articulações de última hora são de praxe na política.

"Estádio" lotado para a decisão
Na arquibancada, a torcida do time dos 15 recebia chocolates – suflair e sonho de valsa – sem moderação. A considerar o nível do espetáculo e o aperitivo para formiga nenhuma botar defeito, diria que se tratava de uma final de Champions League, com o Real Madrid (time dos 15) jogando no Santiago Bernabéu. Uma legítima final europeia porque, fosse sulamericana, ao invés de suflair o público receberia balas de banana ou de canela ou, na melhor das hipóteses, aqueles "mumus" de doce de leite.

Jogando em casa, o Real Madrid sentia-se confiante. Discussões nos bastidores apontavam para uma vitória sem dificuldades do time dos 15. Flávio Vicente (PSDB) – o Cristiano Ronaldo deles – acenava para a torcida empresarial, sorridente, momentos antes do início do jogo. Parecia prever o que estava por vir.

Do outro lado, o modesto Fiorentina, do capitão John Alves (PMDB), não se dava por vencido. No futebol, e por que não na política, não há jogo ganho antes do apito final (votação). A pressão da torcida, toda de preto e com as energias repostas (lembra do suflair?), era grande. John tentava tranquilizar os seus. Ex-presidente da Casa, já havia passado por situações bem piores... e sobrevivido.

O temor é de que o Fiorentina cedesse à pressão. Quem já jogou futebol sabe que, até mesmo em peladas de fim de semana, jogar contra a torcida adversária é largar em desvantagem – emocional, no mínimo.

Primeiro tempo
As jogadas de destaque partiram dos vereadores que fizeram uso da tribuna. Frustrou-se quem esperava toques refinados, de classe. Não faltaram caneladas nos adversários, de um lado e de outro. No lance mais polêmico, talvez já sentido o peso de jogar "fora de casa", Marly Silva (PPL, na época DEM) deu um carrinho por trás – daqueles que no futebol de verdade rende cartão vermelho no ato – ao alegar que o Real Madrid jogava "de quatro" (em referência à subserviência ao poder Executivo). Quase deu briga.

Os principais lances do modesto Fiorentina, bem menos endinheirado que o Real Madrid, partiram de John. Entre uma e outra jogada, o peemedebista demonstrava que não cederia à pressão. Estava preparado psicologicamente. Em seu time, além de Marly, contava com a dupla de zaga do PRP, Luiz do Postinho e Wellington Andrade – que faltava muito aos "treinos" –; com o lateral esquerdo Mário Verri (PT), que conseguia alguns bons articulados cruzamentos à área; e com o atacante Manoel Sobrinho (PC do B), que tentou alguns dribles mais ousados, entre os quais citar Jesus Cristo pela enésima vez em discurso, sem êxito na tentativa de impressionar a torcida.

Com a simpatia do público "madrilenho" e aparente vantagem em campo, o capitão do Real, Mário Hossokawa (PMDB) e o volante turrão do time, Heine Macieira (PP), deixaram os lances de efeito da tribuna para "Cristiano Ronaldo" Vicente, que estava mordido por, dias antes, ter sua viagem à Europa vetada pelos colegas. Queria vingança.

O Real também levou à tribuna o lateral esquerdo, Humberto Henrique (PT), que muitos queriam ver disputando a temporada pelo Fiorentina; o meia Zebrão, recém-chegado ao time dos 15; e o back central Paulo Soni (PSB), um sujeito de pavio curto, famoso por suas frases de efeito. Durante a partida, Soni chegou a chamar os próprios colegas de time de burros. Ficaram no banco Márcia Socreppa (PSDB), Dr. Saboia (PMN) – todo time precisa de um preparador físico – e Bravin (PP), que um dia antes havia declarado num programa de TV que jogaria pelo Real.

Segundo tempo
Com sobras em campo, os gols do Real foram saindo naturalmente. O primeiro veio com a rejeição da proposta de 23 vereadores. A proposta de 9 também não passou... outro gol. Ao final do jogo, a goleada foi assegurada com 11 votos a 4 contra o aumento para 21 cadeiras. Três a zero.

No Fiorentina, John, Verri e Manoel se mantiveram firmes até o final. Marly e Wellington cederam à pressão e, no último momento, votaram contra 21. Chateado, mas de cabeça erguida, John se dirigiu à área reservada à imprensa para as entrevistas pós-jogo. Afirmava que, depois do desfecho daquele jogo, aposentaria-se ao final do contrato.

Os jogadores do Real Madrid se cumprimentavam em campo e, na arquibancada, a torcida de preto (cor do uniforme B do Real) comemorava. Não demorou muito, "Cristiano Ronaldo" Valente pulou o "alambrado" para tirar fotos com a torcida empresarial.

Em uma decisão que ficará para a história de Câmara "Santiago Bernabéu" de Maringá, para satisfação da maioria dos torcedores (eleitores), o Real Madrid faturou o título. Outra Champions League, ou seja, decisão do número de vereadores, só daqui quatro anos.
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2 de setembro de 2011

Pastel e pilates, por favor

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Direi a meu filho, quando tiver um: seja médico, advogado, engenheiro, jogador de futebol e até vereador, mas pense duas vezes antes de ser jornalista. O rendimento de repórter, em especial em cidades de interior, com poucas opções de trabalho, deixa a desejar. Quem quer ter algum ($$) a mais para investir na carreira precisa fazer dupla jornada, sentado em frente a um computador, no maior sedentarismo.

A mesma dupla jornada que me permite pagar uma conceituada pós-graduação e, uma vez por ano, fazer uma boa viagem; acarreta esgotamento mental, sucessivas faltas à academia, má alimentação, açúcar demais e fibras de menos, enfim, uma vida sedentária. Consequência: ganho de peso e malhação para correr atrás do prejuízo.

Com pouco tempo para exercícios, já tentei algumas alternativas. Cortei açúcar para perder míseras 200 gramas e desisti daquelas cápsulas que prometem absorver a gordura dos alimentos. Mentira, não funciona! Estou pensando seriamente em cortar as massas e parar de comer à noite, porém, de momento, a estratégia ainda não saiu do papel. Tenho receio de tomar remédio e prejudicar a saúde, por isso, o máximo que cogito é tomar aquelas vitaminas da Herbalife.

Ao lembrar o que me diz a balança, refuto a afirmação de minha magra e esbelta namorada de que estou bem. Só quer me agradar, é isso.

Para complicar, a academia que passei a frequentar fecha nos fins de semana e depois das 23 horas, nos dias de semana; justamente quando tenho tempo de queimar algumas calorias na esteira. Minha mãe quis saber por que parei de correr no Parque do Ingá. Tive de explicar, de novo, toda a história da dupla jornada e do sedentarismo.

Minha campanha pela perda de alguns quilinhos começa a ter participação popular. É o pessoal cruzando os dedos e até indicando academia – entre elas de boxe, esporte que eu praticava num passado mais magro que o atual. Numa das sessões da Câmara Municipal, na sala de imprensa, um vereador veio me dizer eu estava gordo. Nem reclamei da constatação porque, dessa vez, o vereador estava falando a verdade.

Como essa questão de redução de peso não se resolve de uma hora para outra, preferi postergar novas metas (para não falar em dieta) para segunda-feira. Na manhã seguinte à constatação do vereador, pedi um pastel de miniovo na feira, com café para acompanhar. Nessa história de perder peso, todo mundo tem uma "boa" dica pra dar. O nobre edil me indicou pilates. "Custa SÓ R$ 150 por mês", disse ele. Bom, enquanto não recebo salário de vereador, prefiro boxe… e um bom chope de vinho depois!
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