2 de maio de 2010

Um chalé na Serra Gaúcha

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O desembarque em Gramado, principal destino turístico da Serra Gaúcha, cidade que para muitos lembra a Europa, deu-se numa fria manhã de março, com denso nevoeiro e temperatura na casa dos 5°C. Há quem diga que por lá os termômetros são "viciados" para garantir baixas temperaturas, de qualquer forma, Luiggi Oliveira achava bom vestir blusa e tomar um amargo de novo. Para o jornalista, autor de dois contos que, juntos, não venderam 800 exemplares, a sensação de estar novamente no Rio Grande do Sul era como a de ter retornado do exílio. Sentia-se contente e desejava ficar ali, no ar puro da serra, até concluir seu terceiro livro, quiçá um futuro best seller.

Luiggi chegou de ônibus, com uma mochila nas costas, seu notebook em mãos e disposição para recomeçar do zero. E isso significava dispensar um bom tempo para comprar roupas e bem mais para fazer novos amigos. Em São Paulo, deixou tudo: as ridículas piadas de gaúcho, o pseudo-churrasco de grelha, a poluição, os alagamentos, o trânsito infernal, a violência da grande capital, o cobiçado emprego no maior jornal da cidade, o apartamento com home theater – que largou com toda a mobília aos cuidados de uma imobiliária –, livros e, inclusive, a namorada, com quem já cogitava morar junto. Decisões envolvendo laços afetivos são as mais difíceis de tomar.

Elizabeth era uma boa mulher, em mais de um sentido da palavra. Estilista de futuro promissor, sempre tão ocupada com o crescimento profissional, só foi perceber o momento de angústia do namorado no dia da despedida. E ele, o escritor, precisava de um bom motivo para largar tudo e de um melhor ainda para justificar o "exílio" em Gramado. Por que não Porto Alegre ou Caxias do Sul? Estava certo de que ouviria da bela morena alguma pergunta desse gênero.

Uma briga, mais intensa que as anteriores, foi "o início do fim". Elizabeth disse que gostaria de sair para conversar com sua melhor amiga. "Sem problemas", pensou Luiggi, "deve ser assunto de mulher". No dia do anunciado encontro, ao perguntar onde Elizabeth iria, o escritor recebeu inesperada resposta: um show sertanejo. Iria com a amiga ver Victor & Leo e só voltaria de madrugada. "Não creio que ela aprontou essa contigo, Luiggi", exclamou o melhor amigo e colega de redação, numa mesa de bar. "Fosse você, eu terminaria o namoro", disse o irmão lá do Rio Grande, via MSN. O incentivo do amigo e do irmão foi o combustível da coragem de Luiggi, que rompeu o namoro mesmo sob o temor de se arrepender da decisão, mais tarde.

No mesmo dia, deu início aos preparativos da mudança. Mantinha a disposição de investir na busca do sonho de ter seu nome estampado na capa de um best seller. Num primeiro momento, seu editor-chefe do jornal não aceitou o pedido de demissão. Apostava alto no gaúcho – que tantas vezes fora alvo de suas piadas bairristas. Cedeu ao pedido de acordo na semana seguinte, propondo ao jornalista a função de correspondente no Rio Grande. Luiggi estava, enfim, livre para largar aquela rotina, livre para realizar seu objetivo literário. Queria ver seu livro em todas as bancas, publicado em vários idiomas se possível. Se Paulo Coelho pôde, pensava, com persistência e dedicação conseguiria também.

Certa noite, Luiggi teve um daqueles sonhos surreais, no qual era autor de um título de sucesso chamado "Cobain e o Universo Feminino" – coincidentemente o título do livro que estava escrevendo – e residia num chalé em Gramado. Sua agora ex-namorada não acreditaria que a escolha da cidade se dera por esse motivo. Era melhor que ela nem soubesse do detalhe.

Em Gramado, deixou as malas num pequeno hotel e saiu a caminhar sem pressa pela Borges de Medeiros, uma das mais charmosas avenidas do País. Os cabos de energia elétrica soterrados, as folhas a cair das árvores, o frio, as pessoas encasacadas e as casas em estilo enxaimel conferiam àquela cidade, de fato, ares de Europa. Desejava ter, em Gramado, um chalé com lareira, um vinho nas noites de frio, ar puro nas caminhadas matutinas, sossego para escrever e, quem sabe, companhia especial para as noites mais frias. Estava certo de que teria aquilo, incluindo seu best seller.
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Um comentário:

  1. retornar do exílio... eh bem essa a sensaçao ao cruzar a fronteira q separa o brasil do rio grande do sul! auauahuahauh
    e a serra! aaah a serra! vence a fronteira oeste nos quesitos elegancia e charme! isso eu confesso! mas o sangue corre mais rapido nos pampas! nostalgia total...culpa tua mocotó

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