11 de setembro de 2018

Bolsonaristas têm de torcer pelo PT

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A 26 dias do primeiro turno das eleições, a mais recente pesquisa Datafolha para presidente da República traz uma boa e uma péssima notícia para os bolsonaristas. A boa: Jair Bolsonaro (PSL) ampliou um pouco a vantagem para o segundo colocado. A má notícia: sua rejeição não para de crescer, o que impõe um teto eleitoral baixo para o candidato.

A primeira pesquisa sem o ex-presidente Lula (PT) mediu as intenções de voto quatro dias após o atentado sofrido por Bolsonaro em ato de campanha em Juiz de Fora (MG). Havia a expectativa – pautada na ampla exposição do fato pela mídia – de que a facada, desferida por um completo imbecil sem filiação partidária, faria o candidato do PSL disparar nas pesquisas.

Os dias se passaram, o agressor foi preso; a vítima segue internada, mas se recupera bem; teorias da conspiração de todo tipo tomaram a rede; gente mal intencionada espalhou boatos; e as expectativas iniciais não se confirmaram. O candidato cresceu de 22% para 24% no Datafolha, bem aquém do discurso da militância de que "o atentado acabava de eleger Bolsonaro". A julgar pelos números, fora a militância, o atentado não causou comoção.
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A pesquisa acabou por referendar a análise do diretor-executivo do Atlas Político, Andrei Roman, de que o atentado ajudaria Bolsonaro a chegar perto de seu teto eleitoral, que segundo o cientista político fica em torno de 26%. A análise foi divulgada pelo site El País na antevéspera da pesquisa do Datafolha.

O teto de Bolsonaro está, obviamente, ligado à alta rejeição. Após o atentado, 43% dos entrevistados disseram que não votariam em hipótese alguma no militar da reserva, quatro pontos percentuais de rejeição a mais do que a pesquisa anterior do Datafolha. Aos que apoiam o discurso da bala, os dados são preocupantes.

Para quem não acompanha a fundo o processo eleitoral, isso significa dizer que, em tese, Bolsonaro é um candidato inviável no segundo turno. E a pesquisa confirma isso, mostrando que, num eventual segundo turno, o candidato de extrema direita perderia com certa folga para Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Veja só o tamanho da ironia. Por conta dessa alta rejeição de seu candidato, cabe aos bolsonaristas torcerem pelo PT. Isso mesmo. Sem Lula na disputa, a pesquisa mostra que, no segundo turno, Bolsonaro só teria chances de vencer Fernando Haddad (PT). Os dois estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro – Haddad com 39% e Bolsonaro com 38%.

Sem essa combinação de PSL x PT no segundo turno, é melhor já ir se acostumando: Bolsonaro NÃO será presidente. Ao menos, é que sugerem as pesquisas.

Sobre a pesquisa
Mesmo se tratando de uma crônica, é preciso respeitar as regras, que exigem a divulgação da "ficha técnica" da referida pesquisa, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como BR 02376/2018.

Contratada pela TV Globo e pela Folha de S.Paulo, o instituto Datafolha entrevistou, em 10 de setembro, 2.804 eleitores em 197 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de chance de os dados retratarem a realidade dentro dessa margem de tolerância.




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