22 de fevereiro de 2009
O apóstolo e os fugitivos
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O sentimento era de conquista e satisfação. Lembro-me como se fosse hoje da vez em que acertei as seis dezenas da Mega-Sena - não fui o único ganhador nem o prêmio estava acumulado. A quantia não era absurda, no entanto, mais de R$ 1 milhão não pode ser considerado pouco. Com a grana daria, certamente, para comprar um Porsche, um apartamento na Avenida XV de Novembro, próximo à Catedral de Maringá, e para fazer uma viagem à Groenlândia em mês de aurora boreal.
Por questões de discrição e segurança, contei a façanha apenas a meus pais, irmãos e aos amigos do peito. Era importante que o mínimo de pessoas soubessem, assim esperava ser possível levar uma vida "normal" dali em diante, mesmo com os bolsos abarrotados de dinheiro. Não queria que a mulher especial se interessasse por mim por causa do cheiro de gasolina do Porsche.
Fora minha mãe, nenhuma outra mulher ficou sabendo. As fêmeas, talvez por instinto, talvez pela oscilação hormonal, necessitam de confidentes. "Não conto para ninguém", vindo de uma mulher, significa: "não conto para ninguém, só para minha melhor amiga". E isso é tão perigoso quanto a caixinha de remédios ao alcance das crianças.
Um túmulo, digo, um amigo me perguntou: "donde foi que você tirou esses números? Sonhou com eles?" Sempre que vou à lotérica da atendente loira com cabelo de Barbie, para pagar as contas do mês, faço uma "fezinha". O que não faço é distinção entre os números, como se alguns fossem misses e outros fossem lenhadoras.
Respondi ao amigo: "joguei naqueles em que a caneta alcançou primeiro, com exceção feita ao 12". O doze sempre me pareceu um número legal, um apóstolo do bem, daqueles que faz caridade aos mais necessitados, que visita asilos sem ser candidato a cargo eletivo e que ajuda cegos a atravessar a rua. É um número que dá sorte e, bem por isso, poderia me ajudar a ficar rico da noite para o dia.
Meu amigo, que sempre tem uma palavra para tudo, ao bom estilo presidente Lula, comentou: "Ahhhhh boooooom! Está explicado o porquê você ganhou, foi porque jogou no 12". Depois da filosofia vã, suspeitei que não deveria ter contado a ele sobre o prêmio.
A primeira coisa que comprei foi um daqueles celulares que possuem rádio, máquina fotográfica, MP3, editor de textos e até despertador com toques a perder de vista. E foi o infeliz do despertador que me acordou, por volta das 8h30. O sonho tinha sido muito real, rico em detalhes. Custava a acreditar que não passava de um sonho e que toda aquela grana havia desaparecido no abrir dos olhos.
Fui ao banheiro e, enquanto esvaziava a bexiga, podia me lembrar claramente dos seis números que tinham me tornado milionário. Desconfio que programei o despertador sem querer, porque não precisava acordar antes das 9 horas naquela quarta-feira nublada. Voltei a dormir.
"Qual eram mesmo os números?" Foi a pergunta que me veio à mente assim que acordei, algumas horas depois de voltar para a cama. Só me lembrava do doze (que devia se chamar João; fosse Pedro teria me abandonado, fosse Judas teria me traído), dos outros cinco números não. "Malditos", exclamei. Os infelizes haviam arrumado as trouxas e fugido para bem longe, assim que peguei no sono.
No caminho para o jornal, passei na lotérica da Barbie, apanhei uma cartela da Mega-Sena, pintei com convicção o 12 e sem certeza alguma os outros cinco. Lamentava a estupidez de não ter anotado as seis dezenas premiadas, antes mesmo de ir ao banheiro.
No final da noite, conferi o resultado do concurso no site da Caixa Econômica. O 12 estava entre os sorteados, e só ele. Quis arrancar os poucos cabelos que me restam. Se o tivesse feito, não teria dinheiro para pagar o tratamento capilar, agora que me tornara pobre de novo. Mas uma coisa é certa: se pego aqueles cinco fujões por aí, capo eles.
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O sentimento era de conquista e satisfação. Lembro-me como se fosse hoje da vez em que acertei as seis dezenas da Mega-Sena - não fui o único ganhador nem o prêmio estava acumulado. A quantia não era absurda, no entanto, mais de R$ 1 milhão não pode ser considerado pouco. Com a grana daria, certamente, para comprar um Porsche, um apartamento na Avenida XV de Novembro, próximo à Catedral de Maringá, e para fazer uma viagem à Groenlândia em mês de aurora boreal.
Por questões de discrição e segurança, contei a façanha apenas a meus pais, irmãos e aos amigos do peito. Era importante que o mínimo de pessoas soubessem, assim esperava ser possível levar uma vida "normal" dali em diante, mesmo com os bolsos abarrotados de dinheiro. Não queria que a mulher especial se interessasse por mim por causa do cheiro de gasolina do Porsche.
Fora minha mãe, nenhuma outra mulher ficou sabendo. As fêmeas, talvez por instinto, talvez pela oscilação hormonal, necessitam de confidentes. "Não conto para ninguém", vindo de uma mulher, significa: "não conto para ninguém, só para minha melhor amiga". E isso é tão perigoso quanto a caixinha de remédios ao alcance das crianças.
Um túmulo, digo, um amigo me perguntou: "donde foi que você tirou esses números? Sonhou com eles?" Sempre que vou à lotérica da atendente loira com cabelo de Barbie, para pagar as contas do mês, faço uma "fezinha". O que não faço é distinção entre os números, como se alguns fossem misses e outros fossem lenhadoras.
Respondi ao amigo: "joguei naqueles em que a caneta alcançou primeiro, com exceção feita ao 12". O doze sempre me pareceu um número legal, um apóstolo do bem, daqueles que faz caridade aos mais necessitados, que visita asilos sem ser candidato a cargo eletivo e que ajuda cegos a atravessar a rua. É um número que dá sorte e, bem por isso, poderia me ajudar a ficar rico da noite para o dia.
Meu amigo, que sempre tem uma palavra para tudo, ao bom estilo presidente Lula, comentou: "Ahhhhh boooooom! Está explicado o porquê você ganhou, foi porque jogou no 12". Depois da filosofia vã, suspeitei que não deveria ter contado a ele sobre o prêmio.
A primeira coisa que comprei foi um daqueles celulares que possuem rádio, máquina fotográfica, MP3, editor de textos e até despertador com toques a perder de vista. E foi o infeliz do despertador que me acordou, por volta das 8h30. O sonho tinha sido muito real, rico em detalhes. Custava a acreditar que não passava de um sonho e que toda aquela grana havia desaparecido no abrir dos olhos.
Fui ao banheiro e, enquanto esvaziava a bexiga, podia me lembrar claramente dos seis números que tinham me tornado milionário. Desconfio que programei o despertador sem querer, porque não precisava acordar antes das 9 horas naquela quarta-feira nublada. Voltei a dormir.
"Qual eram mesmo os números?" Foi a pergunta que me veio à mente assim que acordei, algumas horas depois de voltar para a cama. Só me lembrava do doze (que devia se chamar João; fosse Pedro teria me abandonado, fosse Judas teria me traído), dos outros cinco números não. "Malditos", exclamei. Os infelizes haviam arrumado as trouxas e fugido para bem longe, assim que peguei no sono.
No caminho para o jornal, passei na lotérica da Barbie, apanhei uma cartela da Mega-Sena, pintei com convicção o 12 e sem certeza alguma os outros cinco. Lamentava a estupidez de não ter anotado as seis dezenas premiadas, antes mesmo de ir ao banheiro.
No final da noite, conferi o resultado do concurso no site da Caixa Econômica. O 12 estava entre os sorteados, e só ele. Quis arrancar os poucos cabelos que me restam. Se o tivesse feito, não teria dinheiro para pagar o tratamento capilar, agora que me tornara pobre de novo. Mas uma coisa é certa: se pego aqueles cinco fujões por aí, capo eles.
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Maldito relógio!
ResponderExcluirPra que acordar né??
eu acho q vc não ia comprar um celular primeiro!
Sei lá... não tem a tua cara!
Mas se lembrar dos números me conte, eu nao conto pra ninguem!
hehehehehhehehe
Abraço
puxa, o relógio. Sempre ele. Aproveita nas suas férias e dorme mais LF. Quem sabe sonha de novo com os números. huahuahaua
ResponderExcluirAbraço. (THIAGO CHIAPETTI)
vou te dizer quais são os números,
ResponderExcluirpreste bastante atençao:
4 8 15 16 23 42
mas cuidado, eles são perigosos.
nota: durma sempre com papel e caneta ao lado da cama ;)
ResponderExcluirboa história, como são todas as tuas!
tchurururuuu!
Puta que pariu viu, que raiva !!! Acho que vc me contou esta história ... triste, huahuhauhauaahu. Isto é pra vc aprender a acordar e já escrever o q sonhou, seja número ou uma história.. hauahuahau.
ResponderExcluirParabéns, novamente um ótimo texto !!!
Vanessa
oi. Pasando pra conferir as novidades.. to na correria desculpe a ausência,mais uma vez parabens pelas postagens, impossivel comentar em todas... quando der da uma olhadinha la nos meus blogs abraços
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