30 de maio de 2009

Azar no jogo...

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Como é mesmo aquele conhecido ditado popular: "sorte no jogo, azar no amor" ou a ordem correta seria "azar no jogo, sorte no amor"? De qualquer forma, tenho dúvidas sobre o caráter "profético" do ditado, do contrário estaria eu (um mero mortal) namorando a belíssima e talentosa Ana Paula Arósio - ou ao menos já a teria conhecido. Força de expressão à parte, no jogo da vida, tenho lançado dados para tirar sucessivos 1.

Toda má fase existe, entretanto, para ser superada, sob o princípio cristão de que Deus só permite desafios que possam ser vencidos - o apóstolo Pedro (aquele que negou a Jesus três vezes para, após o arrependimento, tornar-ser o líder da igreja cristã) que o diga. Numa escala bem menor, precisava fazer o mesmo e o belo nascer do sol em Maringá, na última quarta-feira de maio, dava a impressão de que isso seria possível. Destarte, estava animado.

Acordei às 6 horas aquele dia, tomei banho quente e gostoso e, por pura falta de fome, saí de casa sem comer. O Sólido (foto), meu lustrado Fusca ano 1975, bicolor, não desapontou e deu partida como se tivesse injeção eletrônica. Parei no primeiro posto para abastecer, tomei aquele café cremoso de máquina (tipo caça-níquel) e rumei em seguida a um dos bairros mais afastados do Centro. Antes das 7 horas, cheguei à pista particular da autoescola para dar algumas voltas numa surrada Honda CG 150cc.

Na preparação derradeira antes do teste, executei o percurso cinco vezes, todas com perfeição. Estava tranquilo e com a ansiedade sob controle, bem o oposto de quando tirei a habilitação tipo B, para dirigir carros, há dez anos. Sentia-me o Valentino Rossi sobre duas rodas.

Quem é habilitado a dirigir motos não precisa ler este parágrafo. Para tirar a licença, não é necessário sair às ruas, transitar entre veículos maiores nem dar preferência aos pedestres. Basta apenas percorrer um circuito que inclui um "oito" tipo autorama, uma prancha com cerca de 30 centímetros de largura, uma rampa, algumas paradas obrigatórias antes de faixas de pedestre em miniatura e desenvolver quatro trocas de marcha. Como se "tuuudo" isso fosse capaz de definir se o cidadão está apto ou não a dirigir um veículo motorizado de duas rodas em meio ao trânsito tantas vezes infernal.

Na pista da 13ª Ciretran, dois profissionais ficavam atentos a cada movimento dos candidatos a motoqueiro. Um deles, descendente de japoneses, esforçava-se para falar em tom mais grave, como se fosse ele um delegado e os demais, presos na carceragem. A impressão era de que ele tinha chupado limão, verde. O outro, baixinho e com alguns traços italianos, nada falava, mas muito anotava em sua prancheta.

Fui o terceiro a encarar o circuito, numa lista que seguramente passava de cem pessoas. Pulsos firmes e braços relaxados, parti para minha volta sem a devida concentração. Talvez pelo excesso de confiança - ou pela falta de medo que nos faz redobrar a atenção - "pisei" com o pneu traseiro na linha e, tão logo terminei a prancha, o fiscal baixinho gesticulou anunciando minha reprovação. Inconcebível falha. Penso que se tivesse outras 99 voltas, teria êxito em todas.

Ao conduzir a moto para o "estacionamento", sob olhares de uma centena de nervosos espectadores, senti-me como um piloto de Fórmula 1 que, confiante em uma boa corrida, tem de retornar aos boxes com o carro avariado após uma batida. A sensação, experimentada até pelos lendários Ayrton Senna, Alain Prost e Michael Schumacher, não é nada agradável, posso garantir. Agora sei que devia ter optado por uma volta a la Rubens Barrichello, ou seja, com toda cautela, prudência e sem excesso de velocidade.

Já sem o capacete, pensei: "a má fase permanece". Tive a vontade de gritar de raiva, e também de reclamar daquela quarta-feira no Procon, por propaganda enganosa. Do lado de fora do cercado do "autódromo", o instrutor me alcançou uma cuia de chimarrão, para depois informar: "o reteste custa R$ 100". Bom, em tempos de azar, deve ser esse o preço cobrado pelo destino para se ter sorte no amor ou, quiçá, ver a Ana Paula Arósio de perto. A essa altura, é melhor ter fé do que ser incrédulo.

Também publicado em: Recanto das Letras e O Alvo.
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19 de maio de 2009

Canáááááááários!

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Há quem diga que jornalista só anda junto. Não é verdade, mas quando andam em grupo, fora da rotina de trabalho, costumam aproveitar com intensidade cada momento. Isso, sim, é verdade. Foi o que aconteceu no domingo, último dia da Expoingá 2009.

“Vou levar minha sobrinha nos brinquedos do parque, vamos juntos?” A ideia foi da repórter setorista de saúde, Lois Lane, que recebeu a demonstração de interesse de um bom número de colegas. Contudo, na hora de enfrentar o desafio apenas O Cara, Dzã-dzã-dzã, Mortal e Sensação – além de Lois e a pequena sobrinha – marcaram presença no ponto de encontro: o próprio jornal.

Já no Parque de Exposições de Maringá, por volta das 18 horas, o jeito foi encarar longas filas em cada um dos brinquedos. O primeiro deles foi eleito por unanimidade: o bate-bate ou tromba-tromba – que lá em Pato Branco se chama carrinho de choque. Um clássico dos parques de diversão, capaz de fazer qualquer marmanjo se sentir dez anos mais jovem, no mínimo.

A julgar pelo trânsito da cidade, Mortal questionou os colegas se não seria ali o local onde os maringaenses aprendem a dirigir. Na “autoescola”, ou melhor, no bate-bate a maioria dos “clientes” geralmente são crianças, mas chegada a vez dos jornalistas, por coincidência ou não, a maior parte dos “motoristas” eram adultos. Dzã-dzã-dzã, que tirou em Maringá a habilitação para dirigir, parecia o mais familiarizado com os carros de um único pedal, movidos à eletricidade. O Cara, o mais alto da turma, teve certa dificuldade para acomodar as pernas dentro do cockpit.


Na literatura, fala-se muito da fonte da juventude. Essa é, quem sabe, a melhor analogia para definir um brinquedo feito para crianças, mas que segue encantando pessoas de todas as idades. Dali, os rejuvenescidos amigos partiram para os brinquedos mais radicais. O mais impressionante deles era também o mais caro. O ingresso do extreme custava R$ 5, dos demais brinquedos R$ 3.

Trata-se de um pêndulo com quatro bancos, cada qual com quatro assentos. Atinge altura maior que o barco viking e velocidade superior ao kamikaze. Para piorar, além do movimento pêndulo, o aparelho gira os assentos no sentido horário, proporcionando mais: emoção, frio no estômago, náuseas, falta de fôlego, medo, tontura, entre outros efeitos colaterais. Na fila, o jeito era não fitar os olhos no brinquedo, para não correr o risco de uma desistência súbita.

Chegada a hora de encarar o extreme, Lois sugeriu o seguinte grito de guerra: “canáááááááários”, com um 'A' acentuado para cada integrante da galera – reforçada com a chegada de OFFíssima e de seu noivo argentino. E foi o que mais se ouviu do grupo, tão logo o botão “on” do aparelho foi acionado. Quanto mais altitude e velocidade tomava o pêndulo, mais canários eram ouvidos. É em horas como aquela que surgem três inevitáveis e pertinentes perguntas: “que diabos estou fazendo aqui? Será que vou aguentar sem vomitar? Quando é que essa M. vai parar? Para quem vê de fora é questão de segundos; para quem resolve encarar, a “bagaça” leva uma eternidade.

Todos sobreviveram, lógico que com doses de pânico e adrenalina distintos. Não satisfeito com a liquidificante experiência, O Cara bradou: “vamos na montanha-russa agora?” Para o estômago de OFFíssima e seu noivo, o extreme foi o suficiente, mas os demais toparam a ideia de O Cara. Como diz a nova máxima: brasileiro não desiste nunca!

Por mais que os engenheiros se dediquem a projetar novos brinquedos, a montanha russa segue com o status de “Pelé” dos parques de diversão, veste sempre a "camisa 10" e se destaca fácil entre os demais brinquedos. Parte da adrenalina que ela proporciona, vale ressaltar, vem do som dos carrinhos sobre os trilhos e do deslocamento de ar dos bólidos em alta velocidade. Provavelmente são projetadas por sujeitos dementes que, nos tempos de faculdade de Engenharia, passavam horas projetando instrumentos de tortura para testar nos calouros.

Na montanha-russa composta por uma grande descida inicial, um looping e várias curvas fechadas, a sensação de medo foi maior que no extreme. Mortal e Lois, que em oportunidades anteriores já haviam encarado as cruéis montantas-russas invertidas, que o digam. Sensação ficou pálida, a pressão arterial de Mortal desceu para amarrar seus cadarços e O Cara, após segundos de gritos sem tomar ar, ficou em silêncio – sabe lá quais efeitos colaterais acometeram o pobre homem. Enquanto isso, Lois, sua sobrinha e Dzã-dzã-dzã já pensavam na próxima aventura.

Os três incansáveis (loucos, por que não) foram numa “roda gigante velocista”, mais rápida que todos os demais brinquedos. O "trem" girava sem piedade e sem preguiça, a princípio na horizontal, inclinando para a vertical aos poucos. Sensação tirava fotos, O Cara reparava na aparência dos três – Lois de olhos fechados, sua sobrinha de olhos arregalados e Dzã-dzã-dzã vermelho como um pimentão –, enquanto Mortal contava o número de voltas rápidas, capazes de fazer Rubens Barrichello voltar a vencer uma corrida.

Alguém ainda ousou, e desta vez não foi O Cara, comentar: "não vamos no kamikaze?" A infeliz ideia foi seguida de um uníssono "nããããão!" Pudera, naquela altura do campeonato ninguém queria encarar um "piloto suicida japonês", todos queriam mesmo era um pastel banhento com Coca-Cola, para ajudar a descer. Extreme, montanha-russa e similares... deixa para o próximo ano.
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11 de maio de 2009

O vício não vale a pena

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Há vários séculos, um sábio respeitado por seu povo foi procurado por uma mãe. Preocupada com a saúde de seu filho, ela pediu para que ele aconselhasse a criança a não comer tanto doce. Por algum motivo, diabetes talvez, o pequeno passava mal com a ingestão de açúcar - mesmo assim não dava ouvidos à sua mãe. O sábio, a quem o menino admirava, respondeu: “voltem daqui um mês”.

Taís Araújo
O tempo passou e a mulher retornou, ansiosa para saber o que o sábio teria a dizer. Seriam palavras memoráveis, apostava ela. Para surpresa da mulher, foram apenas simples palavras. “Pare de comer doces”, aconselhou o homem, com a voz firme e pausada, fitando o adolescente nos olhos. Indignada, aquela mãe questionou: “se era apenas isso, por que o senhor não falou da outra vez que estivemos aqui?” O sábio respondeu: “porque há um mês eu ainda comia doces”.

Ao relembrar dessa estória, passei a lamentar uma experiência que tivera dias antes.

Sou aficionado por Fórmula 1 desde o tricampeonato de Nelson Piquet, em 1986. Meu entusiasmo pela principal categoria do automobilismo mundial não diminuiu mesmo com a morte de Ayrton Senna, o melhor de todos, há 15 anos. Pelo ocorrido no fim de semana, tive de reconhecer que sou mais que fanático, sou viciado em F-1. Fiquei chateado por isso.

Rubens Barrichello, o discípulo preferido de Senna e que, ao que tudo indica, gazeou muitas aulas de pilotagem, saiu em terceiro no GP da Catalunha, mas logo na largada assumiu a liderança. Bastou isso para me deixar empolgado e vidrado diante da tevê.

Não vi três coisas: o tempo passar, Barrichello ganhar – para não perder o costume, o brasileiro da Brawn GP chegou em segundo – e o tradicional desfile cívico-militar em comemoração ao aniversário de Maringá. Dada a bandeirada final da corrida, apressei-me para chegar ao Centro da cidade, porém, o desfile já havia terminado. A mim, só restava lamentar.

Na noite anterior, passei bons minutos conversando pelo MSN com uma das mais belas maringaenses, uma estudante de Direito que, na realidade, é natural de Santo André-SP. Ao me contar que desfilaria trajada de miss, perguntou se eu cobriria o evento. “Não trabalho este domingo, mas estarei lá para te ver”, respondi, já imaginando o quanto ela estaria linda. “A gente se vê então”, disse a futura advogada, uma negra mais linda que a atriz Taís Araújo.

Não estive lá e, assim, perdi mais do que um importante evento de Maringá. Desperdicei uma agradável manhã de outono, de um imenso céu azul sem nuvens. Deixei de ver gente, de comer aquele algodão-doce feito essencialmente de corante e açúcar, de encontrar conhecidos ao acaso, de viver um momento legal da cidade, de rever alguém de encantadora beleza. Enfim, não é justo que a televisão tenha relegado tudo isso a um segundo plano.

Recentemente, aconselhei um amigo e colega de redação a deixar de fumar, preocupado com a saúde dele. Fui tolo. Deveria antes largar meu “vício” – embora não faça mal algum à minha saúde – para depois me preocupar com o vício alheio, qualquer que seja. Que o diga o sábio homem, que deixou de comer doces para, só depois, julgar-se apto a servir de exemplo àquele menino.

O sábio de outrora, é certo, teria preferido ver a mulher mais linda ao carro mais veloz, o friozinho do outono e o cair sem pressa das folhas ao programa de tevê entre quatro paredes. Assim como o garotinho que não ouvia sua mãe, anseio por sábios conselhos. Desta vez, aprendi da pior maneira: com o erro e com o lamento. Se houver uma nova oportunidade, ainda que seja GP decisivo e com brasileiro disputando o título da F-1, não perderei a companhia da miss negra.
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7 de maio de 2009

Revelações do Zodíaco

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Na redação de O Diário do Norte do Paraná, os repórteres escrevemos a partir das chamadas "ilhas", que são nada mais do que bancadas com quatro computadores, com divisórias de metal onde afixamos (geralmente com ímãs) lembretes, fotos, cartões postais, calendários, fotos de mulher pelada, etc. Batizei minha ilha de Polo Norte, por causa da frente fria vinda do ar-condicionado. O apelido pegou.

Lá no Polo Norte, estava mergulhado no universo das notícias, editando o site de O Diário - devidamente acompanhado de minha blusa de flanela xadrez vermelho e preto -, quando surgiu o mais workaholic dos editores. Trouxe consigo um pote de vidro com bolachas de mel até a metade do recipiente. "Minha esposa quem faz", disse ele, com seu sotaque curitibano.

Peguei apenas uma, mas deu vontade de apanhar uma meia dúzia delas. A aparência da bolacha e o aroma exalado pela guloseima davam a certeza de que o gosto não decepcionaria. Em tom de brincadeira, aproveitei o momento: "tua mulher tem irmã caçula?" Antes mesmo de o editor se manifestar, a repórter recém-casada do Polo Norte, descendente de japoneses e de sobrenome impronunciável, ouviu minha declaração e disse sem titubear: "minha irmã mais nova está solteira".

Glup! A declaração me pegou de surpresa. Raras foram as vezes que fiquei vermelho. Daquela vez, não pude evitar.

Lembro de ter visto a irmã solteira dela no casamento, dias antes, e de ter gostado muito do que vi. Infelizmente, não fomos apresentados (cadê os amigos quando precisamos deles?). Enquanto refletia sobre a bela irmã nipônica, abocanhando sem pressa a deliciosa bolacha de mel, escutei os outros dois colegas de Polo Norte trocando ideias sobre aquele lance de signo, o qual nunca acreditei.

"Ahhhhh, então teu ascendente é Virgem", disse Toméia para Ramalho, depois dele passar a ela dados como data, hora e local de nascimento, além do nome completo. "Opa, que história é essa de ascendente?", perguntei. Sempre soube que, nascido em 12 de março, sou Peixes, mas essa de "ascendente" nunca tinha ouvido falar.

Respondi ao questionário, aquele mesmo feito a Ramalho minutos antes. Toméia digitou tudo num site e eis a resposta: "teu ascendente é Áries", disse ela. Sempre achei que Peixes combinava mais com Aquário, mas Áries também faz sentido. Trata-se da primeira constelação do Zodíaco, situada no hemisfério norte. Talvez venha daí meu interesse inexplicável pela Groenlândia.

Toméia tinha lido o perfil de Ramalho, de acordo com aquele site, e pelo que conhecemos dele - um cara super-recatado, polido, centrado - a descrição "caiu como uma luva". Destarte, nada mais justo do que eu também saber o que o Zodíaco teria a dizer a meu respeito. Vejam o que Toméia leu sobre mim:

"Você enfrenta a vida de frente e lança-se em novas experiências com prazer e muito entusiasmo. É direto, taxativo, sem rodeios e normalmente sincero e franco em todas as suas atitudes. Por ser precisamente honesto e franco é difícil para alguém enganá-lo. Às vezes, passa aos outros uma aparência arrogante e perturbadora e, por isso, precisa lembrar-se que deve ter mais tato e sensibilidade para com outras pessoas. Para você, as coisas podem parecer muito óbvias (...)"

Até que fazia sentido. Para saber mais, a colega comentou que seria necessário pagar. "Para mim está bom assim", disse. Só não consigo fazer uma autoavaliação para ter certeza se o perfil traçado pelo site lembra, de fato, minha pessoa. Imagino que meus amigos têm mais condições de avaliar.

De qualquer forma, continuo descrente quanto à influência dos astros na personalidade das pessoas, porém, sigo na expectativa de ser apresentado à bela irmã japonesa da vizinha de Polo Norte. Na blusa xadrez da sorte, que já salvou muitos colegas da hipotermia... aí sim, eu acredito. E antes que falem mal do Polo Norte, vale esclarecer que o lance das fotos de mulher pelada era brincadeira.
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