27 de novembro de 2010

Vacina contra febre amarela

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Para quem tem sofrido de TPF (Tensão Pré-férias) nos últimos dias, chegar à redação e ver sobre a mesa o guia de viagem sobre o Peru ajudou a conter a ansiedade. Comprado com bom desconto na internet, o guia trouxe uma informação relevante sobre vacinação: "brasileiros que viajam ao Peru precisam tomar a vacina contra febre amarela, que deve ser aplicada com antecedência de DEZ DIAS antes da viagem".

Brasileiros não precisam de visto para permanência inferior a 90 dias no Peru, porém, sem a vacina contra febre amarela o estrangeiro não desembarca no País vizinho. Até aí tudo bem, o detalhe que desconhecia era essa antecedência de dez dias antes do embarque. Faltando 15 dias para a viagem, apanhei a carteirinha de vacinação e corri para o posto de saúde mais próximo.

Oi. "Vou viajar para fora do País e preciso tomar a vacina contra febre amarela — disse à atendente do posto de saúde, sem precisar esperar muito tempo na fila. O serviço público de saúde em Maringá pode ser considerado ótimo se comparado com o das capitais ou, ainda, das cidades mais pobres do País.

Preciso do teu cartão do SUS e da carteirinha de vacinação — respondeu a atendente.

Nunca tive cartão do SUS e a carteirinha de vacinação eu perdi. Só tenho essa aqui da gripe suína — informei. Havia passado a madrugada procurando o cartão antigo, aquele com o registro das vacinas que tomei desde a infância e que me salvaria da agulhada. Sem êxito na busca, havia me preparado psicologicamente para a injeção. Enquanto fazia meu registro no SUS, a atendente questionou:

Essa aqui é sua carteirinha de vacinação?
Sim.
E cadê o registro das demais vacinas?
Ah, eu perdi aquela carteirinha. Só tenho essa da gripe suína.
Então você vai precisar tomar TODAS as vacinas de novo — informou ela, causando-me repentino frio na espinha.
Só preciso da vacina contra febre amarela para entrar no Peru. Não preciso de TODAS.
Mas pra gente te dar o atestado de vacina, você vai ter de tomar TODAS de novo — reforçou a atendente.

TODAS significava ser imunizado também contra tétano, hepatite B e tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba). Não tinha jeito, porque sem o atestado de vacina não conseguiria no aeroporto a carteirinha internacional de vacinação, que normalmente é cobrada no desembarque em países com florestas, entre eles o Peru. Meu "visto", então, seria na pele e não no passaporte.

Como você foi perder sua carteirinha — disse a enfermeira, já na sala de vacinação.
Perdi este ano, na última mudança que fiz.
Mas tua carteira de identidade você não perdeu, não é mesmo?
Verdade — lamentei o desleixo, enquanto reparava a enfermeira preparando a primeira das quatro vacinas. Mil vezes uma agulhada do que aquela broca estridente do dentista. De certa forma, essa comparação servia de consolo.

Agora você vai precisar tomar TODAS as vacinas de uma vez. Você tem medo de injeção?
Normalmente não, mas vim preparado psicologicamente para uma vacina, não para quatro!
Acho melhor você não olhar — advertiu a enfermeira.
Fica tranquila que eu não desmaio. Já fui doador de sangue.
Não é mais?
Não. Desisti depois que me falaram que meu tipo de sangue (A+) é muito comum.

Subcutâneas, as duas primeiras agulhadas foram no antebraço: febre amarela no esquerdo e tríplice viral, no direito. Foi indolor. A injeção seguinte, da vacina contra hepatite B, assustou.

Por que essa agulha é tão maior do que as outras?
A de hepatite B é maior mesmo — respondeu a enfermeira, enquanto aplicava a injeção no braço direito, sem dó. — Essa é no músculo — detalhou.
No músculo... sei. Essa aí foi no osso — reclamei.

O pior estava por vir. A vacina contra tétano, historicamente relatada como a mais doída, ficou reservada para o braço esquerdo. Mui amiga, a enfermeira não escondeu o jogo e foi logo falando:

A de tétano dói mais.
Sei bem, já fui apresentado a ela no passado.
Relaxa o braço senão é pior.
CARA%$@ — exclamei. — Por acaso tem pimenta nessa vacina?
Você até que foi corajoso. A maioria não consegue olhar para a agulha e tem até casos de gente que desmaia. 
Não faz mal tomar tantas vacinas de uma vez só? — indaguei.
Mal não faz, mas talvez você sinta um mal-estar à noite, por causa da carga viral.

Não deu outra: à noite cabeça ficou pesada e o corpo mole trouxe o sono mais cedo do que o normal. Doze horas depois, a vacina "de pimenta" contra tétano ainda causava algum desconforto. O pior foi saber que nos próximos dois meses terei de tomar a segunda e terceira doses da vacina contra hepatite B, aquela aplicada no "osso" – "salvo em caso de gravidez ou acidentes graves", conforme consta do atestado de vacina. Logo, vou me cuidar para não ficar grávido e para não ser atropelado, o que não é difícil de acontecer nas "pistas" de Maringá.

Agora, está tudo certo para a viagem de férias ao Peru. Contudo, fica a dica: perca a carteira de identidade, mas, NUNCA, a carteirinha de vacinação.
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18 de novembro de 2010

Minhas férias...

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Redação quase sempre foi meu ponto forte nos tempos de colégio e, sendo assim, conseguia um bom desempenho nos vestibulares – mesmo com os 90% de erros nas questões de química. Embora a afinidade com as letras, havia algo que muito me incomodava nas aulas de língua portuguesa: a bendita-redação-anual sobre "minhas férias". Um porre! Mais porre até do que a tabela periódica - da qual só sei decor a localização e símbolo do hidrogênio.

Além da certeza de que as professoras não liam revistas de viagem e turismo, tinha minhas dúvidas se elas, de fato, liam todos aqueles textos repletos de falta de acentos, crases, vírgulas e, claro, desprovidos de criatividade. Ao invés de relatar minhas férias nos campinhos de várzea de Pato Branco – ou diante da televisão, nos dias de chuva, jogando Enduro no Atari –, preferia escrever sobre minhas viagens fake à Cidade Maravilhosa e ao Cristo Redentor, às praias nordestinas, sobre o Natal com neve em Nova York e muito mais, sempre inspirado em exemplares da revista National Geographic de minha mãe.

As professoras sabiam que eu não era burguês. Não parecia um burguês, meus pais tinham carro usado e meus tênis não eram caros, desses de marca. No 2º grau, tinha uma calculadora científica simples, enquanto os burgueses de verdade tinham calculadoras HP. Talvez as boas notas nas redações sobre "minhas férias" fossem pela criatividade ou, quem sabe, pelo fato de eu, já na adolescência, empregar razoavelmente bem as vírgulas. Um colega, que mais tarde veio a se formar em Processamento de Dados, sempre reclamava: "por que a professora não pede uma redação sobre eu e minhas primas?" Ele comia bem e ainda reclamava. O colega não conhecia o mar e nunca viajava nas férias, mas tinha primas gostosas.

Nas férias, numa época em que internet era quase ficção científica, os jogos de tabuleiro estavam entre os passatempos prediletos de meu irmão do meio e eu. Num deles, ganhava quem desse a volta ao mundo primeiro, administrando a verba da viagem entre viagens de avião, trem, navio e ônibus. Perdia quem torrasse o dinheiro sem completar o roteiro, apontado por carta sorteada do baralho.

Lembro-me de uma de minhas vitórias, que passou por Machu Picchu e terminou na Alemanha. Influência do jogo de tabuleiro ou não, cresci com o sonho de viajar à Europa e de conhecer as montanhas sagradas dos incas, nos Andes peruanos.

Entre 2006 e 2007, pude realizar um desses sonhos. Tive o privilégio de ser selecionado para um intercâmbio profissional, na emissora pública Deutsche Welle, e de morar quase cinco meses em Bonn, na Alemanha. Retornei da Europa com 25 anos de idade e o desejo de me preparar para, antes de completar 30 anos, fazer outra viagem marcante. Da promessa feita a Geordano, ex-colega de jornal e grande amigo, de que o visitaria em Lima, veio a recordação do sonho dos tempos de colégio: conhecer Machu Picchu.

No feriado da Proclamação da República, depois de pesquisar sobre o Peru e de conversar a respeito com uma amiga que já esteve em Machu Picchu, tomei coragem e escolhi um voo. Com bom representante da dita geração Y, comprei as passagens em uma agência de viagens na internet. Com o dólar desvalorizado, saiu em conta: São Paulo a Lima (ida e volta) por R$ 774, incluídas taxas de embarque, parcelado em cinco vezes sem juros.

Farei a viagem para Machu Picchu em dezembro, três meses antes de completar 30 anos. Um presente de mim para mim mesmo, sobre o qual terei prazer de escrever a respeito. Pela primeira vez, a redação sobre "minhas férias" não será um incômodo e, o melhor de tudo, não precisarei recorrer à revista da National Geographic.
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