4 de março de 2009

O sangue do escolhido

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A manhã de domingo era de sol e céu azul, com uma brisa suave que favorecia a consagrada rodinha de amigos na principal cafeteria de Pato Branco, a "boca maldita" da cidade. A viagem de férias, programada para dali alguns dias, era o assunto principal da conversa - inspirada por pequenos goles de café expresso com creme - entre meu irmão do meio e eu.

De dentro da cafeteria, onde também se vendem livros e revistas, podíamos ver o movimento do lado de fora (de veículos e de pessoas), na primeira quadra da Rua Guarani, o metro quadrado mais caro de Pato Branco. Em áreas importantes assim, a ronda policial costuma ser frequente e a criminalidade, o contrário. Não foi isso que se viu naquela manhã.

A calmaria foi quebrada quando um deficiente mental, figura conhecida e benquista dos clientes mais assíduos da cafeteria, correu para perto da entrada do estabelecimento para buscar ajuda. Um piscar de olhos mais tarde, surgem outros dois loucos, ambos maltrapilhos. Um deles, loiro e descabelado, dizia: "é ele que você tem de matar". Aquele que supostamente fora encarregado de matar, um sujeito moreno e impregnado pela sujeira e por um odor nada agradável, gritava: "eu sou o Diabo".

O "Diabo" ficou só no grito, como se quisesse intimidar a todos. Foi o loiro-louco que agiu ao partir para cima do louco do bem, amigo dos clientes. Agarrou-o com as mãos, uma no pescoço e outra no rosto, enquanto os funcionários ligavam para a polícia e alguns fregueses davam os primeiros passos no intuito de apartar a briga.

Ao ser esganado, o louco do bem aplicou uma mordida de pit bull no dedo do agressor, quase causando uma amputação. A Polícia Militar já tinha sido acionada naquele momento. O loiro-louco, transtornado ao ver jorrar sangue do dedo indicador de sua mão direita, passou a esbravejar: "vocês tiraram o sangue do escolhido". E quanto mais as pessoas riam da situação e das frases desconexas, mais o louco repetia que tinham tirado o sangue dele, um "escolhido", e que vingança seria feita.

Devia se tratar de um escolhido do "Diabo", já que tomando as dores do amigo louco, seu comparsa ajuntou duas pedras (grandes, por sinal) para atirar contra a pequena multidão, que observava o lamentável episódio a uma distância de cerca de 25 metros. A primeira investida acertou na parede de um hotel vizinho ao tumulto, a segunda no vidro e no retrovisor do gol branco de um dos clientes.

Ao ver que tinha feito besteira, o louco que dizia ter o Diabo no corpo, deu no pé com medo de ser preso. O louco "escolhido" se afastou sem pressa, "berrando" para todos ouvirem que ele era, óbvio, o escolhido - devia ter sido eleito em alguma votação no hospício de onde havia fugido. A clientela ficou revoltada, alguns cogitaram correr atrás do "Diabo" e aplicar, como se diz em alguns cantões do Paraná, uma "camaçada de pau" nele. Mas ninguém ousou tanto, tendo em vista o risco de levar uma pedrada.

Fiquei com meu irmão ali, reparando a cena de uma distância segura e, mais tarde, checando os estragos das pedradas na parede do hotel e também no veículo. Ficamos no local também por curiosidade, para saber se os loucos agressores seriam detidos. Como em tantas outras cidades brasileiras, em Pato Branco não foi diferente, a polícia chegou ao local apenas quase 20 minutos mais tarde, com o velocímetro da viatura bem pouco empolgado.

Da viatura da PM, desembarcaram dois policiais rechonchudos, um deles bem acima do peso para quem pode, eventualmente, ter de perseguir algum bandido em fuga. O outro, embora não tão gordo nem tão baixo, já aparentava idade para se aposentar. Olhei para meu irmão e disse: "já vi demais por hoje". Embarcamos no carro dele e fomos embora, deixando o último gole do café expresso esfriando na xícara.


4 comentários:

  1. Foi a primeira coisa que o Eduardo me contou quando cheguei em Pato Branco naquele domingo!
    Nossa, que história! Um tanto bizarra, um tanto preocupante! Graças a Deus eu nunca presenciei cenas assim :)

    É sempre bom visitar seu blog!
    Abraços, SUCESSO!

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  2. VOCEIS TIRARUM O SANGUE DO ESCOLHIDO
    VOCEIS TIRARUM O SANGUE DO ESCOLHIDO

    EU SOU O ESCOLHIDO!

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  3. Tudo parecia muito calmo naquela manhã, os passos lentos, a brisa suave, a vontade de dormir mais um pouco e os goles de café do meu irmão! Nossa conversa seguia o mesmo ritmo, algumas palavras esparsas e muito tempo para reflexão... A cafeteria é um ponto de encontro nos domingos de manhã, amigos em rodas de piadas regadas com muita cafeína! Mas o que meu irmão e eu vimos naquela manha foi mais do que isso, foi também inimizades entre pessoas insanas com pedradas sem mira no meio do centro financeiro da nossa bela cidade!!!

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  4. muito preocupante essa postagem sua em se tratando de loucos se dizerem o diabo ou o escolhido alguem tinha que impor maos ali nos carinhas e nao apenas chamar a policia

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