7 de outubro de 2009
As curvas de Maringá
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Ao voltar de São Paulo, a reflexão de sempre: como Maringá é arborizada! E como tem mulheres bonitas – tanto quanto (ou até mais do que) árvores. A constatação é espontânea de tal modo que se torna impossível não repeti-la toda vez que retorno a essa cidade abundante em verde, flores e curvas.
Nas passadas sem pressa rumo à cafeteria preferida, a natureza deu-me as boas-vindas com uma casca de semente de sibipiruna, que deve ter deixado em meu rosto a marca do impacto. Sibipirunas que, na primavera, decoram Maringá em verde e amarelo, com pequenas flores que liberam uma resina grudenta, o terror dos para-brisas dos veículos. "Antes as flores e as cascas de sibipiruna do que as pombas", pensei.
As boas-vindas, Maringá parcelou em duas vezes, a segunda delas "paga" já na cafeteria do shopping. Livre da dieta do açúcar, bebia um café expresso com creme e chocolate, meio amargo, e lia "Traçando New York", livro de Luis Fernando Verissimo recém-comprado num sebo. Na mesa mais afastada do balcão e mais próximo da janela, concentrado na leitura e no café, perdi a majestosa chegada de Liana – suponho que tenha sido majestosa e não tenho a mínima ideia do nome verdadeiro da moça.
Aparentava 1,60m de altura, 20 anos, menos de 50kg, do tipo intelectual embora nada nerd. Tinha cabelos longos, lisos e ruivos que se esforçavam para tocar sua cintura – uma cinturinha para apreciar sem moderação –, e ainda pele clara, olhos verdes e esbeltas coxas, valorizadas pelo shorts curto, porém, comportado. Pediu um café gelado e sacou da bolsa um livro com marca-texto que indicava uma leitura nas páginas finais.
Uma linda jovem, que curte um bom livro regado a café, na livraria com música ao vivo... ahhhh!... uma miragem, um oásis no deserto escaldante. Fiquei com sede, ou melhor, encantado. Esqueci Verissimo e concentrei minha atividade cerebral numa estratégia de aproximação. Precisava ser notado e, mais, causar boa impressão.
Duas rápidas e discretas trocas de olhares me carregaram da coragem necessária para avançar contra os "inimigos": o risco de um fora e o receio de nunca mais tornar a vê-la (caso não tomasse uma iniciativa). Notei que ela estava na mesa 28, com número escrito em fonte igual a que indicava, na passagem, o portão de embarque (também 28) no Terminal da Barra Funda, em São Paulo, um dia antes.
"É um sinal, só pode", alertou minha mente, cobrando-me ação. "Pense em alguma coisa, rápido", insistiu. "E se ela se levantar, for embora e você nunca mais tornar a vê-la?". Minha mente estava certa e eu, se não acatasse seu incentivo, poderia vir a lamentar por algo que deixei de fazer.
Sujeito daqueles que crê que nada acontece por acaso, nem mesmo a repetição da fonte do número 28, tive de agir, sem ser inconveniente. A moça estava concentrada na leitura (ou bem fingia estar), talvez tanto quanto meus olhos estavam nela, e no shorts dela. Optei pela clássica estratégia do bilhete, que no futebol seria correspondente à formação 4-4-2, um tanto defensiva, sem ser retranqueira. No bilhete, assinado com meu endereço de MSN, escrevi:
Como é raro, hoje, mulheres irem ao shopping para ler um bom livro e beber café! Mais raro, ainda, é encontrar com essas mulheres, lindas como você. Gostei de ti e quero te conhecer, mas não quis atrapalhar a leitura.
Corri à papelaria ao lado comprar um pequeno envelope. Depositei o bilhetinho nele e, com os dedos cruzados, pedi a um dos atendentes da livraria que entregasse a "encomenda" à ruiva da mesa próxima à janela. "Não vejo nenhuma ruiva perto da janela", disse o rapaz, para minha surpresa.
A estratégia havia falhado, a moça não estava mais na mesa. Com os óculos bem calibrados, vi o "oásis" na fila do caixa, do outro lado da loja, aguardando para pagar a conta. O único plano B seria pegar a fila e, na primeira oportunidade, puxar conversa. Foi o que fiz. Ela respondeu o tímido "oi" com um "oiiii" sorridente e meigo, olhando-me nos olhos, com seus perolados olhos verdes. Num lapso de falta de reação de minha parte e para fazer valer o imbecil ditado de que "alegria de pobre dura pouco", o atendente lançou o aviso em bom tom: "próximooo!"
E Liana pagou a conta no caixa 1, enquanto eu acertava meu café (e o envelope do plano do bilhete) no caixa 3. Na demora do equipamento em ler meu cartão de crédito, ela foi embora sem que eu notasse, sem que eu soubesse seu verdadeiro nome, sem me dar a chance de entregar o bilhete. Saí dali, dei algumas voltas nos quatro pisos do shopping e não mais a vi.
Dentre tantas lindas maringaenses, a ruiva – de cintura bem definida e cabelos esvoaçantes – destacou-se de todas aos meus olhos. Ao menos naquele dia, eram dela as mais belas curvas da cidade. Na expectativa de vê-la passar, aguardei em vão no banco de concreto em formato de onça-pintada, em frente à entrada principal do shopping. A mesma onça que já testemunhou inúmeros inícios de namoro, desta vez, não pôde fazer nada, senão servir de consolo.
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Ao voltar de São Paulo, a reflexão de sempre: como Maringá é arborizada! E como tem mulheres bonitas – tanto quanto (ou até mais do que) árvores. A constatação é espontânea de tal modo que se torna impossível não repeti-la toda vez que retorno a essa cidade abundante em verde, flores e curvas.
Nas passadas sem pressa rumo à cafeteria preferida, a natureza deu-me as boas-vindas com uma casca de semente de sibipiruna, que deve ter deixado em meu rosto a marca do impacto. Sibipirunas que, na primavera, decoram Maringá em verde e amarelo, com pequenas flores que liberam uma resina grudenta, o terror dos para-brisas dos veículos. "Antes as flores e as cascas de sibipiruna do que as pombas", pensei.
As boas-vindas, Maringá parcelou em duas vezes, a segunda delas "paga" já na cafeteria do shopping. Livre da dieta do açúcar, bebia um café expresso com creme e chocolate, meio amargo, e lia "Traçando New York", livro de Luis Fernando Verissimo recém-comprado num sebo. Na mesa mais afastada do balcão e mais próximo da janela, concentrado na leitura e no café, perdi a majestosa chegada de Liana – suponho que tenha sido majestosa e não tenho a mínima ideia do nome verdadeiro da moça.
Aparentava 1,60m de altura, 20 anos, menos de 50kg, do tipo intelectual embora nada nerd. Tinha cabelos longos, lisos e ruivos que se esforçavam para tocar sua cintura – uma cinturinha para apreciar sem moderação –, e ainda pele clara, olhos verdes e esbeltas coxas, valorizadas pelo shorts curto, porém, comportado. Pediu um café gelado e sacou da bolsa um livro com marca-texto que indicava uma leitura nas páginas finais.
Uma linda jovem, que curte um bom livro regado a café, na livraria com música ao vivo... ahhhh!... uma miragem, um oásis no deserto escaldante. Fiquei com sede, ou melhor, encantado. Esqueci Verissimo e concentrei minha atividade cerebral numa estratégia de aproximação. Precisava ser notado e, mais, causar boa impressão.
Duas rápidas e discretas trocas de olhares me carregaram da coragem necessária para avançar contra os "inimigos": o risco de um fora e o receio de nunca mais tornar a vê-la (caso não tomasse uma iniciativa). Notei que ela estava na mesa 28, com número escrito em fonte igual a que indicava, na passagem, o portão de embarque (também 28) no Terminal da Barra Funda, em São Paulo, um dia antes.
"É um sinal, só pode", alertou minha mente, cobrando-me ação. "Pense em alguma coisa, rápido", insistiu. "E se ela se levantar, for embora e você nunca mais tornar a vê-la?". Minha mente estava certa e eu, se não acatasse seu incentivo, poderia vir a lamentar por algo que deixei de fazer.
Sujeito daqueles que crê que nada acontece por acaso, nem mesmo a repetição da fonte do número 28, tive de agir, sem ser inconveniente. A moça estava concentrada na leitura (ou bem fingia estar), talvez tanto quanto meus olhos estavam nela, e no shorts dela. Optei pela clássica estratégia do bilhete, que no futebol seria correspondente à formação 4-4-2, um tanto defensiva, sem ser retranqueira. No bilhete, assinado com meu endereço de MSN, escrevi:
Como é raro, hoje, mulheres irem ao shopping para ler um bom livro e beber café! Mais raro, ainda, é encontrar com essas mulheres, lindas como você. Gostei de ti e quero te conhecer, mas não quis atrapalhar a leitura.
Corri à papelaria ao lado comprar um pequeno envelope. Depositei o bilhetinho nele e, com os dedos cruzados, pedi a um dos atendentes da livraria que entregasse a "encomenda" à ruiva da mesa próxima à janela. "Não vejo nenhuma ruiva perto da janela", disse o rapaz, para minha surpresa.
A estratégia havia falhado, a moça não estava mais na mesa. Com os óculos bem calibrados, vi o "oásis" na fila do caixa, do outro lado da loja, aguardando para pagar a conta. O único plano B seria pegar a fila e, na primeira oportunidade, puxar conversa. Foi o que fiz. Ela respondeu o tímido "oi" com um "oiiii" sorridente e meigo, olhando-me nos olhos, com seus perolados olhos verdes. Num lapso de falta de reação de minha parte e para fazer valer o imbecil ditado de que "alegria de pobre dura pouco", o atendente lançou o aviso em bom tom: "próximooo!"
E Liana pagou a conta no caixa 1, enquanto eu acertava meu café (e o envelope do plano do bilhete) no caixa 3. Na demora do equipamento em ler meu cartão de crédito, ela foi embora sem que eu notasse, sem que eu soubesse seu verdadeiro nome, sem me dar a chance de entregar o bilhete. Saí dali, dei algumas voltas nos quatro pisos do shopping e não mais a vi.
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Hmmmmm.. mas vc não tem jeito mesmo!
ResponderExcluirEssas coisas acontecem todos os dias, e se vc não tornar a vê-la, na certa vai encontrar outra "Liana" com curvas tão belas quanto estas.
Como você mesmo disse, é o que mais tem em Maringá (depois de árvores... ou não!)
Abraços, sucesso!
E quanto ao livro das melhores crônicas, vou querer um exemplar!
A onça serviu de consolo??? Como assim? Explica isso direito!!!
ResponderExcluirBelo texto, meu caro. Abraço
Vinícius Carvalho
perde tempo escrevendo bilhetes...tsc tsc
ResponderExcluirfora que essa "modalidade de ataque" revela insegurança
em vez de gastar tinta pra nada, usa a tua voz...já falei que ela é bonita.
talvez assim possa gastar tinta escrevendo finais felizes.
há!
Não sei pq, mas o anônimo que disse q perdes tempo escrevendo bilhete está com a razão. Acho q nós gaúchos e gaúchas de todas as querências, somos mais diretos...E se tua voz é bonita pra quê desperdiçar esse dom...
ResponderExcluirDessa vez tu ficou chupando o dedo, como diz um ditado gaúcho " ficou se empinando que nem pelincho em arame"
Dei tanta risada,rsrsrsrsrs...
O bom é que fiquei imaginando a cena...
Abração.
Nas maternidades de Maringá, usa-se água mineral puríssima para o banho das meninas, desde o nascimento. O médico, na hora do parto, usa luvas de pele de raposa do Ártico, para não danificar um centímetro sequer da pele do bebê.
ResponderExcluirNo corte umbilical, é dado o "laço de Windsor", ensinado nas escolas de belas artes da Inglaterra. É retirada amostra do leite de cada mãe, antes da amamentação, para
medir o valor nutritivo.
Estou te explicando por que as mulheres de Maringá chegam à idade adulta em alto nível!
O Cara (via chat)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPuta crônica legal essa viu. Eu gosto de cara que escreve com sinceridade. E percebo o quanto foi sincero nesta. As ruivas de Maringá, assim como as morenas, as loiras, as negras, as pardas, as rosas, as amarelas e as até azuis, realmente são de chocar neguinho que acabou de chegar da São Paulona veia de guerra, com aquele sofrimentozinho estampado no rosto e na vestuária desleixada da mulherada de lá. Porém, ressalvo: ainda prefiro Sampa, seus cinzas, suas garoas e suas solidões. É mais a minha cara. Esse negócio de muita mulher bonita e muita gente sorrindo, coisa comum em Maringá, até me assusta. Me deixa, talvez, mais triste e mais feio. Forte abraço.
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