10 de novembro de 2009
Teoria da Irmã Tribufú
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O Cara e Mortal construíram em apenas um ano e meio, desde quando o primeiro foi contratado pelo jornal em que o segundo já escrevia há pelo menos seis meses, uma sólida amizade, sustentada pelos pilares da lealdade. Uma amizade tão verdadeira quanto suas diferenças. O ditado "os opostos se atraem", que se mostra falho em tantos relacionamentos, na amizade desses dois repórteres faz todo o sentido.
Na redação, um é especialista na editoria de política e o outro, em economia. Enquanto Mortal estuda jornalismo multimídia e está cada vez mais conectado, O Cara cogita se "orkuticidar" enquanto aguarda pela esperada formatura em mais um curso de graduação. Um é expert em cálculos complexos e escreve o necessário para garantir seu sustento, o outro também escreve para viver, mas nas horas de folga tem por hobby expressar suas ideias no papel, ou melhor, no blog.
Além da esfera profissional, as diferenças são mais acentuadas. O "amigo multimídia" é membro da Igreja Metodista e segue a fé de seus pais e avós. O "amigo economista" frequentou a catequese e hoje, ateu, diz não crer em "fábulas". Na política, o blogueiro prevê a eleição de José Serra para presidente, enquanto o economista aposta que Dilma Rousseff conquistará a maioria do eleitorado graças à popularidade de Lula; embora ambos simpatizem mais com Marina Silva. Na Liga da Justiça, O Cara prefere o Batman e Mortal, o Superman; mas os dois comentam sobre como seria interessante ter – ao menos por um dia – os poderes do Superman e as namoradas do Batman. Por fim, um é Corinthians e o outro, óbvio, Palmeiras.
O fato de discordarem em (quase) tudo, no caso deles, serve de combustível para a amizade. O que só é possível graças ao dom da tolerância – dom que não consta das cartas de Paulo aos Coríntios, mas que é de suma importância quando se anseia por um mundo de paz e sem preconceitos.
Mortal é filho primogênito e tem dois irmãos, homens. O Cara também é o mais velho entre três, mas tem duas irmãs. O corintiano foi apresentado ao irmão do meio de Mortal numa festa junina de rua. O palmeirense conheceu a irmã caçula de O Cara, em um jantar sem cerimônia na casa dele. Ocasião que inspirou o cronista da dupla a bolar a "Teoria da Irmã Tribufú" – uma teoria que, em sua essência, já era antiga no tempo de seus avós.
No jantar, o repórter multimídia levou um vinho, Gato Negro Malbec, que trouxera da Argentina nas férias. O repórter de economia pôs em prática seus dotes culinários para preparar um yakissoba. Caprichou tanto que, mesmo querendo errar no arroz (para deixá-lo empapado), o cozido ficou soltinho. Um jazz na "vitrola", pratos e talheres postos à mesa, Mortal e O Cara falavam de tudo um pouco, menos de trabalho, quando foram interrompidos:
– Mano, o jantar vai demorar muito? Senão acho que vou dormir – disse Maria, a irmã mais nova de O Cara. – Está quase pronto mana, aguenta um pouco – respondeu, para em seguida falar ao bem impressionado Mortal – tadinha, estava com fome.
Uma "tadinha" acima da média. Jovem, morena, cabelos longos e lisos, magra e alta (estatura deve estar na genética da família), surgiu na cozinha de pijama, do tipo sem-Mickey-na-estampa. Bem pelo contrário, era um pijaminha tamanho P, desses que os roteiristas de novela pensam para trajar as belas atrizes, com a intenção de elevar a audiência no horário nobre. "Bah", com alguns pontos de exclamação, foi o que Mortal quis dizer, mas não disse. Ficou sem reação, não apenas pela exuberância da moça, mas, também, por se tratar da irmã de um de seus melhores amigos.
Com uma capacidade intelectual invejável, O Cara pode muito bem ter herdado grande parte do Q.I. da família, conforme mencionou Maria durante o jantar. Contudo, certamente foi ela quem ficou com a maior porção da beleza. O conjunto da obra, a plástica facial, as curvas... tornam tal sentença tão incontestável quanto a habilidade do economista com os cálculos e com o tempero do yakissoba.
A situação para Mortal era inédita. O Cara se tornara seu primeiro grande amigo com uma irmã fora de série. O Cara, por sua vez, talvez não percebesse a situação por ainda ver Maria com os olhos de quem a viu crescer. Logo, em função do forte laço de amizade entre os dois, Maria precisava ser vista com uma pitada de divindade, como "freira" ou como "noiva". "Com irmã de melhor amigo não se brinca", lembrou-se Mortal da pertinente frase que ouvira, certa vez, do sábio colega de redação Barack Pandeiro.
"Ficar" sem compromisso está na moda, com algumas ressalvas. Uma delas é justamente a "bela irmã do amigo do peito". E namoro com essas belas divindades é algo complicado, por causa da expectativa que tende a ser gerada pelo amigo-irmão em – na possibilidade de tudo der certo – se tornarem brothers-in-law. Nos tempos do vovô, em que casamentos duravam para sempre, namorar com a irmã mais nova do grande amigo era uma ótima ideia.
O Cara talvez gostasse de ver sua irmã namorando um de seus grandes amigos, talvez não. Independentemente da resposta, Mortal estava certo de que a vida seria mais prática se os amigos do peito não tivessem irmãs deusas. Na "Teoria da Irmã Tribufú", que coloca a amizade sempre em primeiro plano, as caçulas dos melhores amigos seriam sempre horrorosas ou já casadas ou, ainda, jovens demais. Mas como essa teoria é uma besteira sem tamanho, desconsidere.
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O Cara e Mortal construíram em apenas um ano e meio, desde quando o primeiro foi contratado pelo jornal em que o segundo já escrevia há pelo menos seis meses, uma sólida amizade, sustentada pelos pilares da lealdade. Uma amizade tão verdadeira quanto suas diferenças. O ditado "os opostos se atraem", que se mostra falho em tantos relacionamentos, na amizade desses dois repórteres faz todo o sentido.
Na redação, um é especialista na editoria de política e o outro, em economia. Enquanto Mortal estuda jornalismo multimídia e está cada vez mais conectado, O Cara cogita se "orkuticidar" enquanto aguarda pela esperada formatura em mais um curso de graduação. Um é expert em cálculos complexos e escreve o necessário para garantir seu sustento, o outro também escreve para viver, mas nas horas de folga tem por hobby expressar suas ideias no papel, ou melhor, no blog.
Além da esfera profissional, as diferenças são mais acentuadas. O "amigo multimídia" é membro da Igreja Metodista e segue a fé de seus pais e avós. O "amigo economista" frequentou a catequese e hoje, ateu, diz não crer em "fábulas". Na política, o blogueiro prevê a eleição de José Serra para presidente, enquanto o economista aposta que Dilma Rousseff conquistará a maioria do eleitorado graças à popularidade de Lula; embora ambos simpatizem mais com Marina Silva. Na Liga da Justiça, O Cara prefere o Batman e Mortal, o Superman; mas os dois comentam sobre como seria interessante ter – ao menos por um dia – os poderes do Superman e as namoradas do Batman. Por fim, um é Corinthians e o outro, óbvio, Palmeiras.
O fato de discordarem em (quase) tudo, no caso deles, serve de combustível para a amizade. O que só é possível graças ao dom da tolerância – dom que não consta das cartas de Paulo aos Coríntios, mas que é de suma importância quando se anseia por um mundo de paz e sem preconceitos.
Mortal é filho primogênito e tem dois irmãos, homens. O Cara também é o mais velho entre três, mas tem duas irmãs. O corintiano foi apresentado ao irmão do meio de Mortal numa festa junina de rua. O palmeirense conheceu a irmã caçula de O Cara, em um jantar sem cerimônia na casa dele. Ocasião que inspirou o cronista da dupla a bolar a "Teoria da Irmã Tribufú" – uma teoria que, em sua essência, já era antiga no tempo de seus avós.
No jantar, o repórter multimídia levou um vinho, Gato Negro Malbec, que trouxera da Argentina nas férias. O repórter de economia pôs em prática seus dotes culinários para preparar um yakissoba. Caprichou tanto que, mesmo querendo errar no arroz (para deixá-lo empapado), o cozido ficou soltinho. Um jazz na "vitrola", pratos e talheres postos à mesa, Mortal e O Cara falavam de tudo um pouco, menos de trabalho, quando foram interrompidos:
– Mano, o jantar vai demorar muito? Senão acho que vou dormir – disse Maria, a irmã mais nova de O Cara. – Está quase pronto mana, aguenta um pouco – respondeu, para em seguida falar ao bem impressionado Mortal – tadinha, estava com fome.
Uma "tadinha" acima da média. Jovem, morena, cabelos longos e lisos, magra e alta (estatura deve estar na genética da família), surgiu na cozinha de pijama, do tipo sem-Mickey-na-estampa. Bem pelo contrário, era um pijaminha tamanho P, desses que os roteiristas de novela pensam para trajar as belas atrizes, com a intenção de elevar a audiência no horário nobre. "Bah", com alguns pontos de exclamação, foi o que Mortal quis dizer, mas não disse. Ficou sem reação, não apenas pela exuberância da moça, mas, também, por se tratar da irmã de um de seus melhores amigos.
Com uma capacidade intelectual invejável, O Cara pode muito bem ter herdado grande parte do Q.I. da família, conforme mencionou Maria durante o jantar. Contudo, certamente foi ela quem ficou com a maior porção da beleza. O conjunto da obra, a plástica facial, as curvas... tornam tal sentença tão incontestável quanto a habilidade do economista com os cálculos e com o tempero do yakissoba.
A situação para Mortal era inédita. O Cara se tornara seu primeiro grande amigo com uma irmã fora de série. O Cara, por sua vez, talvez não percebesse a situação por ainda ver Maria com os olhos de quem a viu crescer. Logo, em função do forte laço de amizade entre os dois, Maria precisava ser vista com uma pitada de divindade, como "freira" ou como "noiva". "Com irmã de melhor amigo não se brinca", lembrou-se Mortal da pertinente frase que ouvira, certa vez, do sábio colega de redação Barack Pandeiro.
"Ficar" sem compromisso está na moda, com algumas ressalvas. Uma delas é justamente a "bela irmã do amigo do peito". E namoro com essas belas divindades é algo complicado, por causa da expectativa que tende a ser gerada pelo amigo-irmão em – na possibilidade de tudo der certo – se tornarem brothers-in-law. Nos tempos do vovô, em que casamentos duravam para sempre, namorar com a irmã mais nova do grande amigo era uma ótima ideia.
O Cara talvez gostasse de ver sua irmã namorando um de seus grandes amigos, talvez não. Independentemente da resposta, Mortal estava certo de que a vida seria mais prática se os amigos do peito não tivessem irmãs deusas. Na "Teoria da Irmã Tribufú", que coloca a amizade sempre em primeiro plano, as caçulas dos melhores amigos seriam sempre horrorosas ou já casadas ou, ainda, jovens demais. Mas como essa teoria é uma besteira sem tamanho, desconsidere.
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Legal a crônica! Imagino quem seja o jornalista, embora não tenha certeza. Agora a irmã do rapaz, pelo jeito é supimpa mesmo!
ResponderExcluirWilame Prado (no Twitter)
http://twitter.com/wilameprado/status/5591671471
definitivamente tu está no cio!
ResponderExcluire parece ser permanente! auauaauhauah
bju mocotó
Legal sua crônica.
ResponderExcluirVc é mesmo divertido...
Deve se lembrar do que eu te disse quando esteve em Pato Branco,
algo parecido com o comentario acima :)
hehehheheheh
Mas vc pode, né.. ta sozinho, tem mais é que aproveitar!
Abraços
Interessante os comentários anteriores.Todos perceberam do mesmo jeito!
ResponderExcluirPor isso mesmo, é que gostei muito desse texto, pq consegues descrever muito bem a situação, que dá para imaginar, como se fosse um filminho.
Fico tentando mentalizar a cena se te soltasse no meio das concorrentes da garota do fantástico!Ia ser humorística, uma crônica descrevendo tanto efeito em um só vivente!rsrsrsrsrsrs!
Abração!
HAHAHAHAHA
ResponderExcluirEU IMAGINEI A CENA DE VC NO MEIO
DAS CONCORRENTES A GAROTA FANTÁSTICA!!!
BIZARRA!!
hauahauahuahau
Caramba, como meus leitores andam exagerados, inclusive a Jaguatirica do Alegrete que me chama de Mocotó! hehe
ResponderExcluirSe o sujeito para para admirar um carro bonito que vê passar, ou uma bela paisagem, por que não faria o mesmo com uma mulher bonita? Mas garanto a vocês que no meio do concurso da garota do Fantástico (É ISSO?) eu seria discreto, como todo jornalista tem de ser! ;o)
Andei um pouco desmotivado com o blog e, confesso, fiquei ultrafeliz ao ler os comentários de vocês: Wilame, Jaguatirica, Luana e Berriel. Valeu!
Se invente de desmotivar e parar de escrever!
ResponderExcluirSeu blog é um dos meus passa-tempos!
hehehe
Abraços :)
o comentaria acima é meu, foi sem assinatura :P
ResponderExcluir"definitivamente tu está no cio!
ResponderExcluire parece ser permanente! auauaauhauah"
não falo mais nada.
uahsuiahiuhsiuahsi
mais uma boa pra cacete.
um abraço