8 de março de 2010
Sr. 'João sem braço'
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No processo de locação de um apartamento, a informação de que faltava um documento me levou à Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim). Precisava do SCPC Imobiliário, documento cobrado pelas imobiliárias e que serve para o locatário comprovar que é bom pagador e que tem o nome limpo na praça. Fui à Acim e apanhei a senha: número 67... antes de prosseguir, tenho de dizer que o relato a seguir é baseado em uma boa e uma má notícia.
Vamos começar pela notícia ruim: a fila era "quilométrica". Ainda não haviam chamado a senha 55, todos os assentos estavam ocupados e, pior, pelo excesso de gente o ar-condicionado não dava conta de refrescar o ambiente. Dedici que o melhor era esperar no shopping em frente, bebendo um refrescante suco de laranja com graúdas pedras de gelo e lendo a última edição da revista Veja. Bem melhor do que estar na fila e ter de trocar gotas de suor e olhares cansados com desconhecidos.
O retorno se deu com a senha no número 64. Com a desistência dos números 65 e 66, vencidos pelo cansaço, não demorou e fui chamado. — Vai custar "tanto" — disse a atendente, antes mesmo de fazer a consulta do CPF no sistema. Talvez quisesse se certificar de que eu teria a grana. "Está certo", pensei, não ficaria irritado por aquilo. Irritado fiquei foi com um senhor, que adentrou na sala de atendimento, furando uma fila quilométrica e se fazendo de desentendido. Um genuíno "João sem braço".
— O senhor poderia aguardar lá fora que lhe atendo assim que seu número for chamado — disse a atendente, com tolerante simpatia. — Blá, blá, blá, blá... etc — respondeu "João sem braço", de maneira que não consegui compreender nada do que ele dizia. Se passar por velho "gagá" deve ser a última técnica de como furar fila, até porque a atendente rapidamente desistiu de insistir para que ele aguardasse do lado de fora. Devia ter 60 anos, porém, na fila havia três ou quatro com mais idade que ele... e com mais educação também.
— Tem um ditado bíblico que diz que as pessoas próximas são as que mais nos desapontam — disse o fura-fila, ao notar que eu o observava com olhar de reprovação.
É possível que ele tenha aceitado ser fiador de alguém da família que, ao que parece há pouco tempo, passou-lhe a perna. Contudo, nunca ouvi ou li tal ditado bíblico. O que sei, da bíblia, é que devemos agir com honestidade até nos mínimos detalhes. É de prática ilícitas de pequena monta que nascem os corruptos, os ladrões, os maus pagadores. O "João sem braço" reclamava de alguém que não agiu corretamente com ele, mas e ele: agiu como homem de bem com todos aqueles que, respeitosamente, esperaram sua vez na fila?
Tal como aquele senhor, o mundo está repleto de pessoas com desvios morais e éticos que sabem (e citam) a bíblia de "trás para frente, decor e salteado" – aí sim, um ditado de verdade. Não disse àquele senhor uma única palavra. Nem foi preciso, um olhar às vezes também vale por mil palavras. O fura-fila esperou "sua vez", na sala, e eu tomei o rumo da imobiliária.
A boa notícia é que o setor jurídico da imobiliária aprovou a locação do imóvel que escolhi. Trata-se de um apartamento situado a cinco quadras do jornal, com dois quartos, cozinha, dois ambientes de sala, vaga de garagem e cobertura com churrasqueira. Melhor que isso, dividirei o apartamento com meu irmão mais novo que, assim como o autor desta crônica, trocou Pato Branco por Maringá sem medo de ser feliz.
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No processo de locação de um apartamento, a informação de que faltava um documento me levou à Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim). Precisava do SCPC Imobiliário, documento cobrado pelas imobiliárias e que serve para o locatário comprovar que é bom pagador e que tem o nome limpo na praça. Fui à Acim e apanhei a senha: número 67... antes de prosseguir, tenho de dizer que o relato a seguir é baseado em uma boa e uma má notícia.
Vamos começar pela notícia ruim: a fila era "quilométrica". Ainda não haviam chamado a senha 55, todos os assentos estavam ocupados e, pior, pelo excesso de gente o ar-condicionado não dava conta de refrescar o ambiente. Dedici que o melhor era esperar no shopping em frente, bebendo um refrescante suco de laranja com graúdas pedras de gelo e lendo a última edição da revista Veja. Bem melhor do que estar na fila e ter de trocar gotas de suor e olhares cansados com desconhecidos.
O retorno se deu com a senha no número 64. Com a desistência dos números 65 e 66, vencidos pelo cansaço, não demorou e fui chamado. — Vai custar "tanto" — disse a atendente, antes mesmo de fazer a consulta do CPF no sistema. Talvez quisesse se certificar de que eu teria a grana. "Está certo", pensei, não ficaria irritado por aquilo. Irritado fiquei foi com um senhor, que adentrou na sala de atendimento, furando uma fila quilométrica e se fazendo de desentendido. Um genuíno "João sem braço".
— O senhor poderia aguardar lá fora que lhe atendo assim que seu número for chamado — disse a atendente, com tolerante simpatia. — Blá, blá, blá, blá... etc — respondeu "João sem braço", de maneira que não consegui compreender nada do que ele dizia. Se passar por velho "gagá" deve ser a última técnica de como furar fila, até porque a atendente rapidamente desistiu de insistir para que ele aguardasse do lado de fora. Devia ter 60 anos, porém, na fila havia três ou quatro com mais idade que ele... e com mais educação também.
— Tem um ditado bíblico que diz que as pessoas próximas são as que mais nos desapontam — disse o fura-fila, ao notar que eu o observava com olhar de reprovação.
É possível que ele tenha aceitado ser fiador de alguém da família que, ao que parece há pouco tempo, passou-lhe a perna. Contudo, nunca ouvi ou li tal ditado bíblico. O que sei, da bíblia, é que devemos agir com honestidade até nos mínimos detalhes. É de prática ilícitas de pequena monta que nascem os corruptos, os ladrões, os maus pagadores. O "João sem braço" reclamava de alguém que não agiu corretamente com ele, mas e ele: agiu como homem de bem com todos aqueles que, respeitosamente, esperaram sua vez na fila?
Tal como aquele senhor, o mundo está repleto de pessoas com desvios morais e éticos que sabem (e citam) a bíblia de "trás para frente, decor e salteado" – aí sim, um ditado de verdade. Não disse àquele senhor uma única palavra. Nem foi preciso, um olhar às vezes também vale por mil palavras. O fura-fila esperou "sua vez", na sala, e eu tomei o rumo da imobiliária.
A boa notícia é que o setor jurídico da imobiliária aprovou a locação do imóvel que escolhi. Trata-se de um apartamento situado a cinco quadras do jornal, com dois quartos, cozinha, dois ambientes de sala, vaga de garagem e cobertura com churrasqueira. Melhor que isso, dividirei o apartamento com meu irmão mais novo que, assim como o autor desta crônica, trocou Pato Branco por Maringá sem medo de ser feliz.
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Pô! Até fiquei com vontade de tomar um café no novo apê! Hehehehehehe Coisa chique!
ResponderExcluirGrande Diniz Neto! Serás convidado, aguarde (o:
ResponderExcluirMas, não te disse que traria meu irmão para morar em Maringá. E o jovem publicitário está a caminho. Gostaria de apresentá-lo, assim que ele vir de mala e cuia.
Valeu.
Opa! Agora que sabia onde era a casa "velha", preciso descobrir onde é a nova! Quando vamos armar alguma por lá?
ResponderExcluirEita véio feladaputa!!! Se fosse comigo, daria a ele um ditado bíblico no meio do escutador de novela!
ResponderExcluirPois é LF, gente mal educada, mal humorada, intransigente, oportunista, enfim, encontramos todos os dias pelo caminho... basta dar uma voltinha a pé pela cidade ou usar os serviços públicos ou não... passei por isso essa semana quando fui toda empolgada pegar meu carro reserva (bati de novo!) que o seguro me concedeu... já estava pronta para pedir à mocinha opcionais tais como ar e direção hidráulica, quando ela me olha, com olhar de desdém e diz: 'senta aí e aguarda sua vez!' é assim mesmo! mas a parte boa é saber que agora os encontros dos vips serão muito mais especiais! já estou até imaginando os cafés, as noites de queijos e vinhos (com muito mais vinhos que queijos), os churrascos... hahaha. Muda logo!!!
ResponderExcluirAndréa.
O problema é que neguinho faz dessas e reclama que político rouba. Que moral tem uma criatura dessas!?
ResponderExcluirah mocotó tu reclama feito um velho!mas reclama bem, gostei! ahahahha pq nao falou nada pro homem???! HAM!
ResponderExcluiroutra coisa: quero conhecer o tal joão! hehehe já ouvi mto sobre ele. bjuenaopira!
Quem trabalha com o público, tem a noção exata do que é um "João sem braço", e são taaaantos! Pior ainda é quando o dito,se abanca ao lado de quem a gente está atendendo!
ResponderExcluirAí meu amigo, dá uma vontade de dar uma caixinha de comprimido "simancol"pra ele tomar no café, no almoço e na janta!Hehehehehe!
Abração!
O velhinho "João sem braço" é tudo o que a amiga Andréa falou (e xingou) e, se tivesse se tornado alguém importante, como agiria? Como Pablo bem disse, esse um não pode reclamar de político que rouba.
ResponderExcluirOs dois comentários logo acima são de mãe e filha lá de Alegrete-RS... sinto-me prestigiado pelos comentários. Valeu!
tim tim...
ResponderExcluirum brinde ao AP novo.
agora vai ai um puta sacada, ou não...
escreve uma crônica sobre esse belo, charmoso e nada glamuroso nome: João.
Tantas variações e utilidades. Sem medo de errar... nós, os Joões, já ultrapassamos os Josés há muito, muito tempo. Mas nada de piada de Joãozinho!
forte abraço.
Tem uns caras que são mais fortes que a gente as vezes, e acham desculpas pra nao enfrentar fila.
ResponderExcluirO ap de vcs deve ser muito massa, quero ir pra la logo conhecer.
Sucesso na "nova vida"! Vai dar tudo certo pra vc e o João!!!
Grande abraço
É direito do cidadão com mais de 60 anos furar fila. Porque o velho é taxado de bandido no texto acima? Deu pra perceber que só os amigos do autor fazem comentários.
ResponderExcluirNão modero os comentários deste blog para que todos se sintam mais à vontade para opinar, a favor ou contra as crônicas, para elogiar ou para descer o "pau" mesmo. Que mal há em assinar o seguinte comentário:
ResponderExcluir"É direito do cidadão com mais de 60 anos furar fila"??? Não vejo motivo para o comentário acima ter sido anônimo. Só pode ser algum conhecido, alguém próximo, do contrário teria assinado.
De qualquer forma, obrigado pela opinião. É certo que pessoas com mais de 60 podem e devem furar fila, mas, quando a aparência não garante que realmente tenham mais de 60, eles podem tomar a dianteira numa fila mediante apresentação de documento.