5 de janeiro de 2011

A novela do Ingá

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Em recente viagem de férias a Lima, capital do Peru, tirei um tempo para conhecer o tão bem falado – pelos guias de turismo – Bosque das Oliveiras (Bosque de los Olivos, em espanhol). Vi de perto as árvores centenárias e, satisfeito pela oportunidade, fico a imaginar o tamanho da frustração caso tivesse me deparado com o local fechado por tempo indeterminado. Decepção maior teriam dois colegas de redação, que optaram por férias em Nova York, caso encontrassem na ilha de Manhattan o Central Park interditado.

Foto: odiario.com
Guardadas as devidas proporções, é isso que se passa em Maringá com os visitantes que dão de cara com cadeados no portão de entrada do Parque do Ingá. Situado no Centro de Maringá, com mata nativa e um lago ocupando área de 47,3 hectares, o Parque do Ingá foi fechado em 15 de abril de 2009 após a morte de 20 saguis e um macaco-prego. Havia o receio das autoridades de que se tratasse de febre amarela, mas exames laboratoriais revelaram que as mortes dos animais foram causadas por herpes. Os cadeados, porém, permaneceram nos portões para indignação dos moradores e, quem sabe, até dos saguis – sempre com o "olho maior que a barriga" sobre o lanche dos visitantes.

Ao correr ou caminhar no entorno de um dos principais cartões postais de Maringá, algumas vezes senti a vontade de pular a cerca para ver se de fato existiam obras em execução no local. Sem autorização, poderia ser preso, porém, meu lado jornalista pressentia que o atrevimento renderia uma boa matéria. Novelas, todos sabem, dão boa audiência. No "vou, não vou", minha ousadia não chegou a tanto, nem a de um vereador de oposição que confessou ter a vontade de pular a cerca também – no bom sentido da palavra, claro.

O Parque do Ingá não foi aberto ao público em julho do ano passado, contrariando a previsão inicial do governo municipal. Num discurso otimista, o prefeito da cidade deu lá suas justificativas para o atraso e disse que o parque seria reaberto, parcialmente, em janeiro de 2011. À imprensa foi apresentado um belo projeto de revitalização, com uma série de atrativos a serem criados em parceria com a iniciativa privada. O resultado seria tão bom, dava a entender a prefeitura, que, no final das contas, a espera pela reabertura do parque valeria a pena.

O tempo passou, veio janeiro e... nada de concreto! A reabertura, vi na matéria de um colega de redação, foi adiada pela quarta vez. A novela, que já completa 21 meses, segue sem data para um final feliz. Os saguis mais jovens, nascidos na "era dos cadeados", imagino eu, continuarão por alguns meses a ouvir as belas histórias contadas por seus anciãos, sobre o quão bom eram os tempos dos visitantes que burlavam a fiscalização para lhes oferecer as mais variadas guloseimas.

Na condição de jornalista, seguirei dando minha contribuição profissional ao informar os leitores das novidades e reclamar das promessas não cumpridas. Na condição de cidadão, prosseguirei tentando explicar aos parentes e amigos, que vêm volta e meia me visitar em Maringá, o porquê de nosso principal parque continuar fechado ao público. No otimismo de que tudo termine bem, na ceia de Natal brindei para ter a sorte grande na Mega-Sena da Virada e para ver o Parque do Ingá na ativa outra vez. Em ambos os casos, o ano novo não teve um início feliz.

Crônica baseada em opinião publicada em odiario.com.

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2 comentários:

  1. Ainda está fechado? Eu me lembro... estava aí quando ele foi fechado!

    [Via Facebook]

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  2. Legal o texto, Lula.

    Chama a atenção a demora e possivelmente o pouco interesse da prefeitura (imagino que seja a responsável direta) em relação ao Parque do Ingá. Algumas coisas em Maringá andam a "passo de tartaruga". Que o diga a velha rodoviária. A cidade praticamente não tem atração turística e com o Ingá fechado...

    Geordano Tomaz

    [por e-mail]

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