15 de agosto de 2019

VLT das Ilhas Maurício

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Há quem afirme – sem muita propriedade no assunto – que Maringá, com seus mais de 415 mil habitantes, e Londrina, com cerca de 565 mil, não comportam uma linha de trem (ou metrô) que ligue as duas principais cidade do interior do Paraná. Além de defender que comportam, penso que já passou da hora.

Fora os argumentos da segurança e da praticidade desse novo modal, que não enfrenta trânsito, como os ônibus; outro bom argumento está no fluxo de passageiros. Além da população das duas regiões metropolitanas (Maringá e Londrina), esse trem passaria por Apucarana e Arapongas, ambas com cerca de 100 mil habitantes. Ou seja, o modal serviria diretamente a mais de 1,5 milhão de habitantes. É pouco? Pelo contrário!

Port-Louis, capital das Ilhas Maurício

Um exemplo de que dá, sim, para viabilizar o transporte ferroviário com esse número de passageiros vem das Ilhas Maurício, um pequeno país insular do oceano Índico, na África. Por lá, está em execução o "Métro Express de Maurice" (em francês), um VLT construído pela empresa indiana Larsen & Toubro. O projeto prevê 19 estações ao longo de 26 quilômetros. Será apenas uma linha, com inauguração parcial prevista para setembro de 2019.

O projeto do VLT das Ilhas Maurício é bastante interessante (veja o vídeo ao fim do texto). O veículo leve sobre trilhos ligará a capital, Porto Luís (Port-Louis, em francês), e seu belo litoral, à quarta maior cidade do país, Curepipe, situada nas montanhas – uma espécie de Campos do Jordão de lá. Essas duas cidades mauricianas contam, respectivamente, com 150 mil e 82 mil habitantes. Sozinha, Maringá tem quase o dobro dessa população.

Lógico que não é adequado comparar uma cidade de interior com a capital de um país, porém, em contrapartida, o PIB (soma dos bens e serviços de uma região) das Ilhas Maurício não chega a um quarto do PIB paranaense (cerca de R$ 400 bilhões), quem dirá do brasileiro. Se um país africano situado numa pequena ilha pode, nós, paranaenses, também deveríamos poder. Então, onde está o entrave?

Não é desconhecido o fato de o Brasil ser amplamente dependente das rodovias, inclusive no transporte das riquezas geradas no campo, e há um gigantesco lobby para manter esse cenário. Faz sentido. Os "barões" do transporte rodoviário – de pessoas e de mercadorias – não pretendem perder parte desse rentável filão para empresas do setor ferroviário. Assim, projetos nessa área não enfrentam apenas a escassez de recursos federais para investimentos, mas também entraves de ordem política.

Se entre Maringá e Londrina a tendência é que o transporte rodoviário de passageiros permaneça como regra, sem exceções, fica a expectativa de que a Cidade Canção mude o status quo. A atual administração, do prefeito Ulisses Maia (PDT), aliás, já tornou público que cogita a implantação de um VLT. Apenas para o saudoso jornal O Diário, escrevi três ou quatro reportagens a respeito.

De acordo com o secretário de Mobilidade Urbana, Gilberto Purpur, um estudo apontou que há viabilidade para a instalação desse modal na Avenida Brasil. Seria, caso o projeto saísse do papel, o primeiro VLT da região Sul – um feito e tanto. Seria também mais uma propaganda positiva para uma cidade já reconhecida nacionalmente por sua qualidade de vida.

Bastante comuns nas cidades europeias, os VLTs poluem bem menos que os ônibus, são silenciosos e transportam mais passageiros. Além disso, costumam valorizar – e, por consequência, revitalizar – as regiões onde são instalados. E a Avenida Brasil, com tantos espaços comerciais fechados, convenhamos, mereceria esse "tapa no visual". Resta torcer para que nenhum lobby barre o projeto.


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