9 de junho de 2009
A lucidez de Barack Pandeiro
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Poucas vezes houve um happy hour tão divertido quanto naquela noite de quinta-feira, de céu estrelado e temperatura namorando a casa dos 5°C, em que um grupo de amigos do jornal da cidade escolheu para comemorar o aniversário de Mary Jane. Depois de um árduo dia de trabalho, nada melhor do que estar entre amigos - e rir da vida - para relaxar.
Fora Galletto Paulista, que de costume pede uma caninha para aquecer a garganta, todos brindaram a noite apenas com cerveja. "Beber sem brindar, dez anos sem tran...", lembrou um dos viventes, como se aquilo fosse necessário para garantir que a primeira rodada trouxesse sorte, na vida amorosa, a cada um ali presente. O riso foi inevitável, até porque um da turma bebeu antes do brinde.
O garçom trouxe minipastéis – de carne, de queijo, de vento –, e porções fritas de mandioca, batata e asinhas de frango. À medida que novos colegas davam o ar da graça, no boteco com nome de Escritório (mas com cara de boteco, é claro), o tinir do sino anunciava que, lá da cozinha, algum tipo de fritura estava a caminho. "Vê mais uma, bem gelada", era a frase mais ouvida pelos garçons, especialmente quando algum atrasado amigo surgia para reforçar o time.
Eis aí a grande diferença entre dois tipos de loiras que encantam os brasileiros. Para ser boa, uma precisa ser bem gelada, a outra tem de ser quente. Piegas a comparação? Ninguém naquela mesa, naquela noite, concordaria. Pelo contrário, piadinhas desse gênero surgiram aos montes.
Galletto, Pelicano e Dójão Augustowski foram os primeiros a chegar. Dójão, vale ressaltar, chegou inquieto: havia sido cantado por uma "funcionária" de um fervinho enquanto passava de carro, possivelmente a 15 quilômetros por hora, em frente à casa de luzes avermelhadas. Tão logo o jornal da manhã seguinte foi para as rotativas, rumaram para o boteco Sensação, Mortal, Ipanema - a menina nova no jornal - e a aniversariante, Mary Jane, que busca por um homem-aranha para chamar de seu.
Depois do primeiro tintim, chegaram ao recinto O Cara, Sanzico e Sãozico – nomes parecidos para indivíduos que, por vontade de suas mães, nasceram para homenagear um craque do Mengão. Só que, por obra do acaso, ou por pura revolta dos tempos de adolescência, um escolheu torcer para o Santos e o outro, para o São Paulo. E ambos lidam diariamente com bits, bytes, giga, url e elementos do tipo para pagar suas contas.
Quando pessoas de bem se reúnem, quando não há desavenças entre integrantes do grupo, quando estão juntos para falar de tudo, menos de trabalho, a alegria passa a ser protagonista do enredo. Sem medo de exagerar, assim foi naquela noite, especialmente após a chegada de Pandeiro, o homem dos esportes do jornal, um dos sujeitos mais de bem com a vida em Maringá.
Conhecido frequentador dos bares da Vila Operária, chegou e foi ovacionado pelos amigos, como se fosse um toureiro em dia que o touro levou a pior. No jornal, é um cidadão um tanto quieto, embora sempre bem humorado. Às vezes, cantarola alguma música antiga; às vezes, sai com alguma piada rápida para descontrair os colegas de redação. A melhor versão dele, no entanto, desabrocha no happy hour com os amigos de boteco.
"O Barack Pandeiro chegou", exclamou alguém ao colega, um moreno de cinquenta-e-poucos-anos que não aparenta a idade, mesmo com os cabelos grisalhos cacheados. "Que Barack nada", respondeu Pandeiro, em tom de piada. "Como é que pode me comparar com aquele negrinho que não tem ideia do que seja uma roda de samba, que não gosta de futebol e que nunca bebeu uma cachacinha". Enquanto a maioria ainda recuperava o fôlego, Sensação emendou: "vai virar crônica no blog!" Boa profecia: a crônica é esta, lida neste momento.
Certa altura, início da madrugada, os casados começaram a tirar uma onda com os solteiros. A proximidade dos Dia dos Namorados talvez justifique a brincadeira. Mortal pagou seus pecados nas mãos de Pandeiro, que queria entender o porquê dele estar sozinho se existe uma linda paquera na mesa ao lado, no jornal. O sábio Pandeiro de muitas rodinhas de samba, do bom torresminho e do chope gelado, bradou: "se você ainda não encontrou a mulher certa, meu jovem, divirta-se com a errada!"
Pandeiro chegou atrasado porque passou visitando alguns barzinhos no caminho, como de costume. A maioria ali, pelo alto nível das piadas, das brincadeiras, questionava-se sobre Pandeiro: "que marca de cerveja deram para ele beber, antes de chegar aqui?" Mesmo com muito sangue na cerveja, a lucidez de Pandeiro impressionou, engasgou (em decorrência dos risos) e animou a cada um dos presentes. Foi, de longe, a celebridade da noite. O presidente Obama teria dito: "this is the man!"
A pedido de colegas, o autor alterou um dos codinomes originais: de "Autustóvis" para "Dójão Augustowski".
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Poucas vezes houve um happy hour tão divertido quanto naquela noite de quinta-feira, de céu estrelado e temperatura namorando a casa dos 5°C, em que um grupo de amigos do jornal da cidade escolheu para comemorar o aniversário de Mary Jane. Depois de um árduo dia de trabalho, nada melhor do que estar entre amigos - e rir da vida - para relaxar.
Fora Galletto Paulista, que de costume pede uma caninha para aquecer a garganta, todos brindaram a noite apenas com cerveja. "Beber sem brindar, dez anos sem tran...", lembrou um dos viventes, como se aquilo fosse necessário para garantir que a primeira rodada trouxesse sorte, na vida amorosa, a cada um ali presente. O riso foi inevitável, até porque um da turma bebeu antes do brinde.
O garçom trouxe minipastéis – de carne, de queijo, de vento –, e porções fritas de mandioca, batata e asinhas de frango. À medida que novos colegas davam o ar da graça, no boteco com nome de Escritório (mas com cara de boteco, é claro), o tinir do sino anunciava que, lá da cozinha, algum tipo de fritura estava a caminho. "Vê mais uma, bem gelada", era a frase mais ouvida pelos garçons, especialmente quando algum atrasado amigo surgia para reforçar o time.
Eis aí a grande diferença entre dois tipos de loiras que encantam os brasileiros. Para ser boa, uma precisa ser bem gelada, a outra tem de ser quente. Piegas a comparação? Ninguém naquela mesa, naquela noite, concordaria. Pelo contrário, piadinhas desse gênero surgiram aos montes.
Galletto, Pelicano e Dójão Augustowski foram os primeiros a chegar. Dójão, vale ressaltar, chegou inquieto: havia sido cantado por uma "funcionária" de um fervinho enquanto passava de carro, possivelmente a 15 quilômetros por hora, em frente à casa de luzes avermelhadas. Tão logo o jornal da manhã seguinte foi para as rotativas, rumaram para o boteco Sensação, Mortal, Ipanema - a menina nova no jornal - e a aniversariante, Mary Jane, que busca por um homem-aranha para chamar de seu.
Depois do primeiro tintim, chegaram ao recinto O Cara, Sanzico e Sãozico – nomes parecidos para indivíduos que, por vontade de suas mães, nasceram para homenagear um craque do Mengão. Só que, por obra do acaso, ou por pura revolta dos tempos de adolescência, um escolheu torcer para o Santos e o outro, para o São Paulo. E ambos lidam diariamente com bits, bytes, giga, url e elementos do tipo para pagar suas contas.
Quando pessoas de bem se reúnem, quando não há desavenças entre integrantes do grupo, quando estão juntos para falar de tudo, menos de trabalho, a alegria passa a ser protagonista do enredo. Sem medo de exagerar, assim foi naquela noite, especialmente após a chegada de Pandeiro, o homem dos esportes do jornal, um dos sujeitos mais de bem com a vida em Maringá.
Conhecido frequentador dos bares da Vila Operária, chegou e foi ovacionado pelos amigos, como se fosse um toureiro em dia que o touro levou a pior. No jornal, é um cidadão um tanto quieto, embora sempre bem humorado. Às vezes, cantarola alguma música antiga; às vezes, sai com alguma piada rápida para descontrair os colegas de redação. A melhor versão dele, no entanto, desabrocha no happy hour com os amigos de boteco.
"O Barack Pandeiro chegou", exclamou alguém ao colega, um moreno de cinquenta-e-poucos-anos que não aparenta a idade, mesmo com os cabelos grisalhos cacheados. "Que Barack nada", respondeu Pandeiro, em tom de piada. "Como é que pode me comparar com aquele negrinho que não tem ideia do que seja uma roda de samba, que não gosta de futebol e que nunca bebeu uma cachacinha". Enquanto a maioria ainda recuperava o fôlego, Sensação emendou: "vai virar crônica no blog!" Boa profecia: a crônica é esta, lida neste momento.
Certa altura, início da madrugada, os casados começaram a tirar uma onda com os solteiros. A proximidade dos Dia dos Namorados talvez justifique a brincadeira. Mortal pagou seus pecados nas mãos de Pandeiro, que queria entender o porquê dele estar sozinho se existe uma linda paquera na mesa ao lado, no jornal. O sábio Pandeiro de muitas rodinhas de samba, do bom torresminho e do chope gelado, bradou: "se você ainda não encontrou a mulher certa, meu jovem, divirta-se com a errada!"
Pandeiro chegou atrasado porque passou visitando alguns barzinhos no caminho, como de costume. A maioria ali, pelo alto nível das piadas, das brincadeiras, questionava-se sobre Pandeiro: "que marca de cerveja deram para ele beber, antes de chegar aqui?" Mesmo com muito sangue na cerveja, a lucidez de Pandeiro impressionou, engasgou (em decorrência dos risos) e animou a cada um dos presentes. Foi, de longe, a celebridade da noite. O presidente Obama teria dito: "this is the man!"
A pedido de colegas, o autor alterou um dos codinomes originais: de "Autustóvis" para "Dójão Augustowski".
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Aeeeeeeee Salve Barack Pandeira, salve LF, salve a todos os grandes colegas deste ilustríssimo newspaper !!!
ResponderExcluirOffíssima
Ops, escrevi errado o sobrenome do nosso ilustríssimo protagonista, é Pandeiro.
ResponderExcluirArruma aí LF.
Nem o frio daquele dia, que foi o mais frio do ano até agora, abalou o humor dessa galera animada. Foi tudo muito divertido, mas é impossível não lembrar do Barack Pandeiro dizendo: "preciso atualizar meu blog...". Foi hilário... hehehe
ResponderExcluirMortal, valeu por mais esta crônica ótima.
Sensação.
Alô Luiz!
ResponderExcluirCada vez que você encaminha um toque sobre seu blogue, imediatamente faço acesso. Tanto gosto de tuas crônicas e forma narrativa que posso afirmar: parece que se está vivendo o fato em lócuo. Te sugiro que faças uma coletânea e imprima em livro: "Fatos e Bo(m)atos da redação de jornal".
Grande abraço, amigo!
Capitão (via email)
Mas vc está no céu aí, né LF!
ResponderExcluirAlém de Maringá ser maravilhosa, o seu trabalho deve ser muitooo massa, principalmente pelos colegas!
Hilario o jeito como escreve: pastel de vento (que tbm já cansei de comprar, achando q tivesse recheio), A Mary Jane em busca do seu homem amanha... hahahahaha.. e os apelidos de vcs, então! Muito divertidos!
Sucesso aí, LF, um mega abraço :D
Pois é meu caro... cada um, um dia encontra sua cara metade, sua tampa da panela... no caso do filósofo de botequim e pensador autônomo PANDEIRO, ainda não encontrou sua CUÍCA!
ResponderExcluirLF, me passa um cic com os codinomes poxa... estou perdendo o melhor da história...
ResponderExcluiraugustóvis... kkk esta é fácil
Nota: 5
ResponderExcluirVinicius Carvalho
Nota: 5,0
ResponderExcluirThiago Ramari (por email)
Nota: 6,5
ResponderExcluirJuliana Daibert (por email)
Nota: 7,5
ResponderExcluirElaine Utsunomiya (por email)